São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

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Da prisão, Madoff diz que bancos "tinham de saber" das fraudes

Para financista, instituições foram "cúmplices" do seu esquema

DIANA B. HENRIQUES
DO "NEW YORK TIMES", EM BUTNER (CAROLINA DO NORTE)

Bernard Madoff disse que jamais imaginou que o colapso de seu esquema de pirâmide fraudulento causaria destruição do tamanho da que se abateu sobre sua família.
Mas, durante entrevista de duas horas em uma sala para visitantes da penitenciária de Butner, terça-feira, e em troca anterior de e-mail, ele disse que bancos e fundos de hedge, cujos nomes não quis citar, eram, de algum modo, "cúmplices" em sua complicada fraude, o que representa reversão de alegações anteriores de que ele era o único envolvido no esquema.
Mark Madoff, seu filho, matou-se em dezembro, e a família do financista enfrenta dezenas de processos judiciais e a perda da maior parte de seu patrimônio. Isso levou à perda de contato entre Madoff e sua mulher, Ruth, e os filhos do casal.
Madoff falou de modo intenso e fluente sobre suas transações com diversos bancos e fundos de hedge, apontando para a "cegueira deliberada" e a negligência quanto ao exame de discrepâncias entre as contas que sua empresa apresentava às autoridades regulatórias.
"Eles tinham de saber", disse Madoff. "Mas a atitude era mais ou menos a de, "se você está fazendo algo de errado, não queremos saber."
Embora tenha admitido, na entrevista, sua culpa e declarado que nada servia de desculpa para seus crimes, os comentários que fez foram concentrados de forma precisa em grandes investidores e instituições gigantescas com as quais negociava, e não no sofrimento financeiro que causou a milhares de seus investidores mais modestos.
Madoff disse ter ficado atônito quando foi informado sobre alguns dos e-mails e mensagens trocados entre banqueiros antes do colapso do seu esquema, mencionando dúvidas sobre seus resultados. Essas informações estão emergindo agora em processos judiciais.
Ele não disse que algum banco ou fundo de hedge específico tenha sabido ou sido cúmplice de sua fraude, que durou quase 16 anos e consumiu US$ 20 bilhões em capital perdido e mais US$ 65 bilhões em patrimônio hipotético inexistente. Em vez disso, ele se referiu à inércia dos bancos no que tange a conduzir o exame normal das transações financeiras.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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