São Paulo, domingo, 17 de abril de 2011

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MICHAEL SPENCE

Mudar o crescimento da China


O país terá de desenvolver o setor financeiro, criar mais empresas e depender menos das exportações

A CHINA se prepara para começar sua transição de país de renda média para país desenvolvido. Relativamente poucas economias (cinco, para ser exato, todas asiáticas: Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Cingapura) conseguiram realizar essa transição com sucesso e sustentar ritmo elevado de crescimento. Nenhum país tão grande e diversificado quanto a China o fez.
O 12º Plano Quinquenal chinês, adotado no mês passado, define o percurso para que isso aconteça. Mas na verdade não se trata de um plano, e sim de um conjunto interconectado e coerente de prioridades políticas cujo objetivo é sustentar a evolução estrutural da economia -e assim manter o crescimento rápido- ao longo do período do plano e mais além.
Existem pelo menos cinco transições importantes e interconectadas no novo Plano Quinquenal chinês:
1) alterar o modelo de crescimento da economia, dadas a alta nos custos da mão de obra, a conquista de participações de mercado mundiais grandes o bastante para limitar a expansão adicional e a redução no ímpeto de crescimento dos países em desenvolvimento por período desconhecido;
2) reequilibrar a demanda, ao priorizar o consumo interno, em vez de investimento e exportação;
3) acomodar uma população que se urbaniza rapidamente;
4) criar as instituições necessárias para promover inclusão e oportunidades iguais para todos;
5) assumir responsabilidade internacional por estabilidade, por crescimento e por sustentabilidade.
O desafio para a China está na implementação, que implica reforma e mudança sistêmica. A experiência internacional sugere que o equilíbrio entre o planejamento central e os mercados muda em favor dos mercados à medida que um país enriquece. A evolução estrutural que embasa o crescimento será cada vez mais propelida por oportunidades de mercado e pela iniciativa empresarial. É preciso criar grande número de novas empresas.
Para sustentar essa mudança, muita coisa é necessária. As empresas que usam mão de obra intensivamente no setor de exportação precisam encolher. Muitas empresas podem sobreviver, mas apenas pela transferência a partes diferenciadas da economia mundial ou para uma porção mais alta da cadeia de valor, na economia interna. Quem não crescer ou não melhorar estará fora.
Uma alta na taxa de câmbio nominal e real pode promover mudança estrutural -manter a política de câmbio fraco é uma armadilha.
O setor financeiro precisa ser desenvolvido a fim de criar mais opções de poupança e para fornecer crédito e capital de maneira eficiente a empresas novas e em crescimento, algo de que a China precisa a fim de atrair a população rural para as cidades. Muitos dos novos empregos estarão no setor de serviços urbano nacional, que não envolve possibilidade de exportação.
À medida que o escopo do setor privado se expande, estruturas legais e políticas que promovam concorrência, entrada e saída, abertura de mercado, propriedade intelectual segura e redes de seguro social se tornarão necessárias. O avanço para um escalão mais elevado nas cadeias de suprimento requererá educação mais efetiva e expansão do investimento na base intelectual e tecnológica da economia.
O padrão de crescimento requer que a demanda estrutural seja direcionada a prover mais renda disponível, a atender a um maior consumo governamental e a investimentos de maior retorno.
A meta do Plano Quinquenal é recompor (e não expandir) a demanda agregada, a fim de sustentar o crescimento e evitar a armadilha de uma redução nos retornos, que representa o maior risco para o atual padrão de investimento chinês.
Mudar esse padrão requereria um sistema financeiro reestruturado que aloque poupança de maneira eficiente, com base na disciplina fiscal e do mercado de capitais e em reformas na governança empresarial. Desenvolver esse sistema será parte importante na obtenção do alto retorno sobre o investimento e do consumo expandido que os líderes chineses desejam e de que a economia chinesa precisa.

MICHAEL SPENCE é professor de economia na Escola Stern de Administração de Empresas (Universidade de Nova York) e pesquisador sênior na Hoover Institution (Universidade Stanford). Este texto foi distribuído pelo Project Syndicate.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

AMANHÃ EM MERCADO:
Maria Inês Dolci


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