São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2010

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Dubai tenta se reinventar para sair da crise

Após estouro da "bolha" imobiliária e da moratória do conglomerado Dubai World, Emirado começa a se recuperar

Bolsa e títulos têm reação, mas obras equivalentes a R$ 560 bi foram adiadas ou canceladas após "bolha"

Charles Crowell - 24.nov.09/Bloomberg
Prédios em construção em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos; preços de imóveis estão, em média, 50% menores em relação aos do auge da ‘bolha’

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A DUBAI

Uma ampla casa em estilo espanhol num condomínio cercado de construções pela metade na periferia de Dubai simboliza a trajetória do sonho ao pesadelo para a paulistana Bianca Balfour.
Vivendo no mais badalado dos sete Emirados Árabes Unidos desde 2002, Bianca conheceu na pele a ascensão e a queda do mercado imobiliário de Dubai.
Hoje, ela luta para ter a casa dos sonhos -ou ao menos reaver os R$ 350 mil que pagou de entrada em 2007.
"A queda de Dubai pode ser resumida em uma palavra: ganância", diz Bianca, na varanda da casa em fase final de construção.
Ela acusa a imobiliária Dubai Properties de ter liquidado seu contrato por falta de pagamento antes do prazo, a fim de revender a casa pelo dobro do preço inicial de R$ 3,4 milhões. A Folha procurou a Dubai Properties, mas não obteve resposta.
Dois anos depois da quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, que estourou a "bolha" de Dubai e fez os preços de imóveis despencar, o mercado imobiliário do Emirado está longe de se recuperar.
A confiança externa desabou de vez com o pedido de moratória do gigantesco conglomerado público Dubai World, em novembro de 2009, com uma dívida estimada hoje em R$ 187 bilhões.
Alguns analistas enxergam sinais tímidos de volta da confiança, como os índices positivos da Bolsa de Valores e do comércio exterior e a bem-sucedida venda de títulos do governo de Dubai na semana passada.

CORRIDA DO OURO
"O modelo de crescimento de Dubai terá de mudar", diz Eckart Woertz, diretor de estudos econômicos do Centro de Pesquisa do Golfo. "O mercado imobiliário continua com problemas, mas outros setores como logística já estão indo bem."
Durante o boom financeiro e imobiliário, novos lançamentos chegavam a ser vendidos em minutos e revendidos em poucas horas.
Uma verdadeira corrida do ouro causada pela combinação explosiva de crédito fácil, especulação desenfreada e frouxa regulação local.
O resultado foi uma escalada vertiginosa nos preços de imóveis, que inflou a "bolha" e criou uma era de gastança e de excessos.
"Foi um momento de exuberância irracional", diz o cearense João Elton, citando a frase do ex-presidente do Fed Alan Greenspan.
Vivendo desde 2005 em Dubai, onde é promotor de eventos, ele não esconde a saudade dos tempos de euforia. "Havia festas quase todo dia; as pessoas gastavam sem pensar. Hoje, todo mundo pensa dez vezes antes de botar a mão na carteira."

CIDADE FANTASMA
Em volta do condomínio em estilo espanhol ambicionado por Bianca, dezenas de outros projetos imobiliários estão com a construção parada, formando um cenário que lembra uma enorme cidade fantasma.
Segundo a consultoria Proleads, especializada no mercado de Dubai, empreendimentos que totalizam R$ 560 bilhões foram adiados ou cancelados.
Apesar de ter ganho um bom dinheiro comprando e vendendo imóveis antes de ver seu sonho virar fumaça, Bianca não considera parte do jogo o que acontece com ela. "Não sou uma especuladora. Gosto de Dubai e comprei a casa para morar com a minha família."
Com a previsão de entrada de 25 mil novos imóveis no mercado neste ano, os preços devem continuar baixando, o que começa a atrair novamente investidores estrangeiros, como alguns fundos de investimento chineses.
Em relação aos patamares atingidos no auge da "bolha", os preços hoje estão, em média, 50% menores.
Para quem não saiu a tempo, isso pode significar medidas drásticas.
"Sei de um proprietário que desistiu de um andar inteiro num prédio 70% pronto porque valia mais a pena comprar dois andares pelo preço de hoje e completar a obra", diz Chris Waight, diretor da corretora Cluttons, uma das maiores de Dubai.


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