São Paulo, sábado, 18 de junho de 2011

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ANÁLISE

Petrobras deve aliar respeito ao acionista e interesses do país

Momento político é de uso de estatais como auxiliares na promoção do desenvolvimento


FICA PATENTE A INTERPRETAÇÃO DE QUE SE FAZ NECESSÁRIO SACRIFICAR PARTE DO LUCRO DA EMPRESA


CREOMAR CARVALHO DE SOUZA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Analistas financeiros têm comentado acerca da perda de valor de mercado da Petrobras.
Contudo, quais são os elementos que possivelmente levariam a essa perda de valor de uma companhia?
Outra pergunta que se coloca é: tendo em vista o caráter estatal da empresa, qual deve ser seu foco de geração de valor?
Na resposta dessas questões tentar-se-á expor elementos que expliquem os motivos que resultam no atual modelo de gestão da companhia e em como a relação com o governo traz vantagens e desvantagens para a empresa.
É importante ressaltar que o atual momento político é favorável à utilização de determinadas empresas nacionais como elementos de auxílio na busca do desenvolvimento nacional.
Isso significa dizer que a diretoria da empresa aqui analisada tem como orientação principal uma perspectiva política que não tem como foco as dinâmicas tradicionais de mercado. Ou seja, a Petrobras, sendo considerada pelo governo como um instrumento de auxílio na busca pelo desenvolvimento, não necessariamente terá sua ação comercial voltada para o lucro como uma companhia de caráter privado no mesmo setor.
Exemplo dessa situação ocorre na atual conjuntura com a resistência apresentada pelo governo federal de permitir um reajuste no valor dos combustíveis.
Mesmo que operacionalmente tal demanda seja necessária, fica patente a interpretação do Estado brasileiro -como acionista majoritário- de que se faz necessário sacrificar parte do lucro da empresa em favor de um objetivo maior que seria a contenção de alguma pressão inflacionária resultante de reajustes no preço dos derivados de petróleo.
Se a resultante política de tal medida é considerada positiva para parte considerável da população em termos de mercado, pode-se indicar dois problemas.
O primeiro é a diminuição do lucro decorrente da não realização de reajustes nos preços; o segundo é a percepção, por alguns investidores, de que as regras de gestão da companhia atenderiam objetivos não mercadológicos.
Ambos os aspectos trazem desconforto para aqueles que eventualmente possuam recursos aplicados na empresa. Contudo, um grupo específico de indivíduos pode ter maiores prejuízos -os chamados pequenos investidores.
Esses cidadãos colocam-se, portanto, entre dois dilemas. De um lado estão pressionados no dia a dia pelos reajustes dos combustíveis, como pessoas comuns.
De outro, podem sofrer com a possibilidade de seu patrimônio individual ser diluído por uma perspectiva política que visa atender muitos sacrificando poucos.
Resumidamente, coloca-se como desafio ao governo e à companhia construir um modelo de inserção no mercado que use a Petrobras como um patrimônio a serviço de todos os brasileiros sem, contudo, prejudicar aqueles cidadãos que colocaram suas economias pessoais nos cofres da companhia.

CREOMAR LIMA CARVALHO DE SOUZA é professor de relações internacionais do Ibmec, mestre em relações internacionais e especialista em política externa dos EUA


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