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Teles se armam contra Google e Apple
Operadoras querem dividir investimentos com as empresas que aceleraram o ritmo de crescimento da internet
Teles dizem que essas companhias de internet faturam às suas custas, obrigando-as a investir mais sem dividir receita
JULIO WIZIACK
DE SÃO PAULO
As principais teles do
mundo estão armando uma
ofensiva contra Apple, Google e outras companhias que
vêm provocando a explosão
do tráfego internacional de
internet com o lançamento
de seus produtos e serviços.
Para as operadoras, as
companhias de internet estariam faturando às suas custas e obrigando as teles a investirem ainda mais em infraestrutura para suportar a
crescente demanda por vídeos, games, filmes e outros
serviços que as "pontocom"
colocam no mercado.
Telefónica, Vodafone,
América Móvil, NTT Docomo, Verizon, AT&T, entre outras, estudam negociar com
essas empresas um novo modelo de negócio, em que elas
também participarão dos investimentos nas redes que
suportam seus serviços.
A Folha teve acesso a um
relatório reservado de uma
dessas operadoras sobre os
riscos que o crescimento da
Apple e do Google representam à saúde financeira dos
grupos de telecomunicações.
Segundo o relatório, somente na Europa as teles investiram quase 10% de sua
receita anual em rede. No
mesmo período, as empresas
de internet, como o Google,
investiram 0,25% do faturamento. Entre as companhias
de tecnologia, como a Apple,
esse índice foi de 0,86%.
Google e Apple já faturam
mais que algumas operadoras. Em sete anos, o faturamento do Google saiu de
US$ 439,5 milhões para
US$ 23,7 bilhões. Boa parte
devido ao sucesso do YouTube, que permite o acesso a vídeos postados por usuários.
A Apple teve movimento
semelhante após lançar o
iPhone e o iTunes, loja virtual de aplicativos, vídeos,
filmes e músicas.
O problema é que, desde o
ano passado, o tráfego de internet passou a crescer em
um ritmo considerado insustentável pelas operadoras.
Segundo elas, para dar
conta, seria preciso investir
ainda mais. E, como suas receitas não acompanham esse
ritmo de avanço, as teles dizem que podem ter suas contas afetadas, comprometendo os serviços básicos de telefonia, que são prioritários.
Uma forma de melhorar a
capacidade de suas redes seria trocar as atuais (construídas basicamente por fios de
cobre, que não suportam tráfego pesado de dados) por fibras ópticas.
No Brasil, esse tipo de investimento não é viável se a
receita por cliente de uma
operadora for inferior a
R$ 100. Esse limite permitiria
amortizar o investimento em
no mínimo uma década, na
previsão mais otimista.
Por isso, as teles querem
compartilhar investimentos
com as companhias de tecnologia e de internet.
OUTRO LADO
A Apple não quis comentar o assunto. Alexandre Hohagen, diretor-geral do Google para a América Latina,
discorda do argumento das
operadoras. "O Google ou
qualquer provedor de plataformas de conteúdo já paga
às operadoras um valor expressivo pelo uso das redes."
"O produto [conteúdos e
aplicativos] que oferecemos
alavanca as operações das teles com os consumidores, já
que oferecemos motivos convincentes para que eles consumam mais planos de dados", diz Hohagen.
Para ele, hoje qualquer
empreendedor pode viabilizar sua ideia e pagará proporcionalmente ao sucesso
que tiver com seu produto ou
serviço. "Às teles caberá decidir como investir em suas
infraestruturas e garantir um
nível de qualidade de serviço
que faça com que os clientes
se mantenham fiéis a elas,"
diz Hohagen.
FOLHA.com
Ouça comentários sobre a
ofensiva das teles contra
empresas de internet
folha.com.br/mm768180
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