São Paulo, quinta-feira, 18 de agosto de 2011

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'Trabalham quietos, feito condenados', diz vizinho

AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO

Há cinco anos em São Paulo, a boliviana Idalena Furtado conhece bem a realidade de seus compatriotas nas clandestinas oficinas de confecção espalhadas pelo bairro do Bom Retiro, na região central da capital paulista.
Furtado, hoje cozinheira, é uma entre milhares de bolivianos que abandonaram a pátria de Evo Morales atrás de trabalho e renda. Mas, para muitos, o sonho no Brasil se converte em um drama em pouco tempo.
"Trabalhava 15 horas por dia, das 7h da manhã até as 22h. Comia sobre a máquina de costura e dormia em um cômodo onde todo mundo ficava amontoado", afirma a ex-costureira.
Ontem, ao saber da operação realizada pelo Ministério do Trabalho na região, a duas quadras do seu atual trabalho, Furtado comemorou.
"Acho que eles deveriam fazer isso mais vezes. Tem muito patrício aqui que vive como escravo", afirma.
Onde o Ministério do Trabalho fez a blitz, na avenida Rudge, tudo parece quieto e soturno. O prédio parece um "bunker", uma clausura onde a luz do sol não entra.
Pela extensa escadaria mal iluminada, avistada da porta principal do prédio, algumas pessoas transitavam de cima para baixo, ignorando o interfone acionado pela reportagem da Folha.
A vizinhança dali preferiu o silêncio. As pessoas viram a operação do Ministério do Trabalho, mas poucos quiseram comentar.
Alguns se mostraram contrários à presença de bolivianos no bairro, o que evidencia existir um clima pouco amistoso no bairro paulistano do Bom Retiro.
A chegada de coreanos e de bolivianos transformou a região em um polo da indústria da confecção com baixo custo de produção. Mais gente, mais dinheiro.
Francisco Ceará, dono de pequena oficina, reclama do preço dos aluguéis.
"Alugava essa casa aqui por R$ 600. Agora, pago R$ 1.500", afirma.
Sobre os bolivianos, Ceará não tem preconceito e sabe bem o que os distingue: "Trabalham quietos, feito condenados", diz.


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