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ANÁLISE COMMODITIES
Mudança do clima mostra a vulnerabilidade do agronegócio
LA NIÑA CAUSA TRANSTORNOS,
COM REFLEXOS
NOS MERCADOS DE TRIGO, MILHO, SOJA, CARNES E LEITE
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GERALDO BARROS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ao contrário do que se passa no longo prazo, no curto
prazo os mercados de commodities podem ser muito
instáveis, como se observa
atualmente.
Após a assombrosa crise
de 2007/2008, com preços de
alimentos em altas históricas, em junho deste ano, a
FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) lançou
um tranquilizador "Outlook"
(relatório semestral).
Apesar da turbulência macroeconômica, o lado da
oferta assegurava perspectivas de preços sujeitos a mudanças moderadas e não
preocupantes para cereais,
açúcar, oleaginosas e carnes.
Numa reviravolta, a FAO
reúne-se emergencialmente
neste mês, em Roma (Itália),
para reavaliar o quadro atual
e as perspectivas de nova onda de escassez e preços demasiadamente altos.
Parece agora que os recorrentes problemas climáticos
numa diversidade de regiões
podem lançar o mundo em
crises mais frequentes.
Ademais, essas crises tendem a se potencializar enquanto não for possível corrigir desajustes macroeconômicos através de uma ação
coordenada no âmbito do
G20, por exemplo.
Mais uma vez, o fenômeno
La Niña vem causando transtornos ao redor do mundo,
com reflexos palpáveis no
mercado do trigo e, por extensão, nos do milho e da soja, e daí para carnes e leite.
Se um novo e problemático regime climático tiver se
instalado, haverá campo fértil para propagação inflacionária nos próximos anos.
Os países emergentes seguem em firme crescimento,
mantendo aquecida a demanda mundial.
O mercado financeiro
acha-se com grande liquidez,
em busca de oportunidades
de aplicação, inclusive em
commodities.
Numa conjuntura como
essa, normalmente viriam
clamores dos países desenvolvidos para contenção do
crescimento. Porém, atualmente esses países se acham
fragilizados e depositam
grande esperança de recuperação no avanço acelerado
dos emergentes.
A trava anti-inflacionária
poderá ficar desativada desta
vez, ao contrário do ocorrido
no ano de 2008, quando a crise financeira responsabilizou-se pelo esfriamento do
mercado.
No Brasil, o mercado interno segue em forte expansão,
o desemprego permanece
baixo, o crédito, abundante e
os juros -em níveis baixos
em relação ao histórico nacional- deixaram de subir.
Há renda suficiente para
sancionar as altas de preços
de produtos agropecuários
que vão ocorrendo, com destaque para o boi (12% em dois
meses), café (18% desde
abril), algodão (28% desde
julho) e açúcar (21% em um
mês).
Os grãos também vêm se
recuperando, sendo que o
preço da soja já subiu 20%
em relação ao do início de junho.
O clima desfavorável já
atinge alguns setores agropecuários, com alta de preços
para certas atividades e, para
outras, somente perdas de
produção.
No Centro-Oeste e no Sudeste, a torcida para a vinda
da chuva é grande.
Se ela vier nos próximos
dias, o problema terá sido
passageiro. Se atrasar mais, o
problema poderá se estender
até o próximo ano, de forma
generalizada.
Tudo isso se passa num
panorama internacional propício à absorção de exportações volumosas, potencializando o aquecimento dos
preços no mercado interno.
Num quadro como esse,
tentar segurar a queda do dólar -que regula a transmissão de preços externos para o
mercado doméstico- pode
se revelar uma estratégia de
viés inflacionário.
GERALDO BARROS é professor titular da
USP/Esalq e coordenador científico do
Cepea/Esalq/USP.
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