São Paulo, sábado, 18 de dezembro de 2010

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cifras & letras

ENTREVISTA AMBIENTE

"A economia sustentável começa pela abolição do PIB"

Conceitos obsoletos atrapalham debate ambiental, diz professor da USP

Eduardo Verdugo - 8.dez.10/Associated Press
Em Cancún, no México, manifestação do Greenpeace alude ao derretimento de geleiras causado pelo aquecimento global

DE SÃO PAULO

Quando chamamos José Eli da Veiga de otimista, ele pede para ir "devagar com o andor". "Otimista é um pessimista mal informado", rebate o professor de economia na USP, que aponta, em novo livro, avanços na legitimação da sustentabilidade como valor cultural e político.
De jargão científico, nos anos 70, a termo da moda hoje, a palavra sustentabilidade ganhou o centro do debate sobre desenvolvimento.
O livro discute as contradições entre teorias desenvolvimentistas e a ecologia -e entre a morosidade nas discussões do Protocolo de Kyoto e as conclusões urgentes do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima.
Vislumbra a ascensão da "economia verde", que deve ganhar força em 2012, com a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
Para que a evolução ocorra, Veiga julga necessário abolir o Produto Interno Bruto como unidade de medida da economia mundial, bem como substituir a competição pela colaboração no desenvolvimento tecnológico.
Nesta entrevista, ele explica o que espera do futuro próximo. Não comenta a Conferência do Clima de Cancún, ocorrida na semana passada, porque "exigiria muito mais pano para manga".
(EGN)

 


Superar o PIB
O PIB é uma medida muito precária de desempenho econômico, que certamente será superada por outra referente ao consumo e não à produção. Simultaneamente, a qualidade de vida terá um indicador bem mais sofisticado do que o atual IDH.
A avaliação da sustentabilidade desse duplo processo exigirá uma medida biofísica, como é a atual pegada ecológica. Trata-se, portanto, de três dimensões que não devem ser confundidas ou misturadas.

Dilma Rousseff
Por enquanto é impossível fazer qualquer prognóstico sobre o que será o governo Dilma, pois o noticiário das última semanas esteve abarrotado de surpresas, algumas muito boas.
Tomara que a nova equipe perceba que a qualidade do crescimento econômico é infinitamente mais estratégica para o futuro da sociedade do que sua mera aceleração.
Como dizia Gandhi, a velocidade não faz sentido quando se desconhece o rumo.

Cooperação tecnológica
A ênfase do livro é para a necessidade de acabar com essa relação chamada eufemisticamente de "transferência de tecnologia" e substituí-la por um processo planejado de cooperação científico-tecnológica entre as "potências climáticas", cuja lista inclui um grande número de sociedades emergentes.

Os EUA de Obama
Nos EUA, continuam muito fortes os grupos de interesse ligados aos negócios de energias fósseis. Por isso, mesmo que um presidente tenha clareza sobre a necessidade de rever a estratégia de segurança energética, investindo na transição ao baixo carbono, ele terá imensa dificuldade de ganhar o Congresso para essa posição.
Não se trata de "decepção" com Obama, pois ele tentou e teve que recuar. Mas não se deve excluir a possibilidade de um forte contra-ataque em 2013, caso ele consiga se reeleger.

SUSTENTABILIDADE

AUTOR José Eli da Veiga
EDITORA Senac-SP
QUANTO R$ 35 (160 págs.)


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