São Paulo, sábado, 18 de dezembro de 2010

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OPINIÃO

O etanol e a patela

PASQUALE CIPRO NETO
COLUNISTA DA FOLHA

Em se tratando da anatomia do corpo humano, o prezado leitor certamente sabe o que é a rótula, não sabe? Pois veja o que diz o "Houaiss" no verbete "patela": "Osso sesamóide situado na parte anterior do joelho [anteriormente denominado rótula]". Antes que eu me esqueça, "sesamóide" ("Abre-te, sésamo!") é o que tem formato semelhante à semente do sésamo, ou seja, do velho gergelim.
Pois é, caro leitor, a rótula virou patela. Pegou? Talvez entre os especialistas -os médicos; para os leigos, nada de patela. Se alguém disser que fraturou a patela...
Pois agora o pessoal da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar) fez o mesmo com o álcool, o combustível. O motivo? Lá fora (diga-se United States of America), o álcool combustível é etanol, palavra que, dizem todos os nossos dicionários, significa o mesmo que "álcool etílico". Herança da longa presença dos mouros na península Ibérica, o velho "álcool" é vocábulo árabe.
O caro leitor certamente deve ter notado que nos postos de combustível o álcool já desapareceu; virou etanol. Na tabela de preços e nas bombas, o "A" de álcool deu lugar a um "E", de etanol. Será que, depois dessa mudança, algum consumidor entrou num posto e pediu ao frentista que pusesse etanol no carro? Como diria a nossa querida Barbara Gancia, aposto um picolé de limão em que ninguém fez ou fará esse esdrúxulo pedido.
O problema, mais uma vez, é o velho complexo de vira-lata, que, aliás, já se manifestou com a gloriosa Petrobras, cujo nome, acrônimo de Petróleo Brasileiro S.A., no governo tucano deixou de ser Petrobrás, sob o genial argumento de que em inglês não existe acento agudo. Será que a Nestlé perdeu algum negócio mundo afora por causa do acento agudo?
Na época, circulou também a "tese" de que, no mercado internacional, o acento agudo poderia ser confundido com um apóstrofo (atenção: apóstrofo, com "o"; não se confunda "apóstrofo" com "apóstrofe", que é outra coisa). Quer dizer que um gringo veria Petrobrás e entenderia "da Petrobra"? Elaiá! Chamem o Zé Simão!
Em tempo: o "ultranacionalista" governo do PT não mexeu na coisa (e a Petrobras continuou como a rebatizaram os tucanos).
Podem trocar álcool por etanol, senhores usineiros. Afinal, não é só nisso que Vossas Senhorias mandam e desmandam, desde Cabral. Podem trocar. Mas o bom negro e o bom branco da nação brasileira dirão todos os dias: "Bota álcool, por favor". Bem, por ora, não, que o danado está caro que só. É isso.


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