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Orçamento de calçado pirata sai em 3 dias
Reportagem da Folha faz visita a fábrica chinesa que promete produzir por R$ 4 Melissa que é vendida no Brasil por R$ 70
É tão grande a demanda na cidade chinesa campeã da pirataria
de calçados que há
falta de trabalhadores
Fabiano Maisonnave/Folhapress
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Região de cidade de Quanzhou, em Fujian (China), que tem dezenas de fábricas de calçados
DO ENVIADO A PUTIAN
De sombrinha contra o sol
quente, a empresária Zhong
me espera na estação de trem
de Putian, provavelmente o
maior centro produtor mundial de calçados piratas.
Pauta do encontro, marcado por meio de anúncio na
internet: comprar 6.000 pares de Melissas falsas.
Entramos num carro de
placas pretas, indicando que
pertence a um estrangeiro
-a empresa tem sede nos
EUA. Vamos a um escritório
em um prédio residencial de
classe média baixa. Ali, dois
técnicos nos esperam.
Tiro da mochila três pares
da Melissa original, dois modelos baixos e um de salto alto. Explico que quero o mais
parecido possível, inclusive
o cheiro doce do plástico.
"Nós já fabricamos esses
dois", diz um deles. "Mas será preciso fazer um molde para o de salto alto, e isso custa
5.000 yuans [R$1.272]." Eles
prometem um orçamento inicial em até três dias.
A reunião termina. Zhong,
com simpatia de vendedora,
convida a jantar e a conhecer
o comércio de sapatos falsos.
Vamos a um restaurante.
Em meio a oito pratos diferentes, conta que Putian, de
quase 3 milhões de pessoas,
virou uma grande fábrica de
sapatos depois que uma unidade da Nike (original) se
instalou, há duas décadas.
Rapidamente, conta, os tênis Nike passaram ser produzidos a partir de desenhos
originais roubados. "Houve
uma época em que havia
uma fábrica no fundo de todas as casas aqui." Hoje, a
produção está mais espalhada e há fábricas de grande
porte -a que ela representa
tem mil funcionários.
A demanda é tão grande
que faltam trabalhadores. O
salário saltou de R$ 356, no
ano passado, para R$ 460,
por uma jornada de dez horas, com quatro folgas mensais e duas refeições diárias,
sem férias.
Depois vamos para a rua
dos Estudantes. São dezenas
de lojas de fábricas. O local
só abre à noite, em razão do
horário na Europa e nos EUA,
origem da demanda.
Os clientes são pequenos
revendedores de sapatos falsos. Eles recebem o pedido
via internet e, após o pagamento on-line, vão às lojas
comprar, geralmente um par.
No dia seguinte, despacham.
Geralmente, a venda é feita por famílias, que faturam
em média R$ 1.300 mensais.
Zhong conta que a produção e a comercialização são
feitas sem maiores problemas, mas que é preciso subornar policiais.
Após três dias, chega o orçamento. O par da sandália
sai por R$ 3,8, incluindo uma
caixa igual à original (no site
da Melissa, custa R$ 69,90).
Capacidade de produção:
2.000 pares/dia. Com o cheiro, o pedido mínimo é de 100
mil unidades. Hora de cancelar o negócio.
(FM)
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