São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

A indústria e a batalha do real forte


Economistas insuspeitos notam prejuízo da indústria com o real forte; governo intervém no mercado futuro


O REAL FORTE, o veloz crescimento da importação de bens de consumo e intermediários e o encolhimento da produção industrial desde abril ressuscitaram um debate que foi muito vívido em 2006.
Queixas mais ou menos vagas e intensas sobre a "desindustrialização" são comuns desde o Plano Real, em 1995. Quando o país voltou a crescer bem, após 2006, as críticas "desenvolvimentistas" ao real forte baixaram de tom. Mas, agora, até observadores mais insuspeitos começam a apontar o câmbio como um problema para a indústria.
Esses "insuspeitos" não chegam ao ponto de falar em "desindustrialização" -não chegam nem perto disso, aliás. Porém, começam a se perguntar sobre os motivos de a produção industrial vir se arrastando. Desde abril, a atividade da indústria encolheu 1,65%. Mas há setores da indústria que caíram vários degraus abaixo disso, como o de metalurgia (fora máquinas), máquinas de escritório e informática, máquinas e equipamentos elétricos e o de eletrônica & comunicações.
O economista Sérgio Vale, da consultoria MB Associados, escreve em relatório divulgado ontem que uma explicação do tropeço industrial seria o excesso de estoques acumulados pelas empresas no primeiro trimestre, quando havia expectativa irreal de que o crescimento daqueles meses seria repetido até o final do ano. A indústria estaria, pois, desovando estoques. Se a hipótese é correta, diz Vale, desfeitos os estoques, a indústria retomaria a produção antes do final de 2010, até por conta das encomendas de Natal.
A outra hipótese de Vale, "que começa a ficar desagradavelmente verdadeira, é que a disparidade entre varejo [crescimento das vendas do comércio] e indústria poderia ser explicada pela taxa de câmbio convidativa à importação". Como se sabe, a taxa de câmbio do real por uma cesta ponderada de moedas de países com os quais o Brasil mais comercia está no nível de FHC 1.
Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, é praticamente da mesma opinião, expressa em relatório do banco divulgado também ontem de tarde. Bicalho apenas muda a ordem das hipóteses apresentada por Vale, mas não das razões. A indústria se arrasta desde abril porque: 1) O real se valorizou e as importações crescem rápido; 2) Houve "indesejável" acumulação de estoques em certos setores da indústria; 3) As exportações crescem devagar.
O economista do Itaú Unibanco acredita que a indústria voltaria a crescer de modo regular neste último trimestre do ano, embora num ritmo inferior ao da demanda doméstica -pelo lado das exportações de bens industriais, a retomada seria "moderada".
Para constar. A MBA prevê alta do PIB de 8% para este ano e 2,8% de deficit externo. O Itaú Unibanco, 7,6% e 2,5%, respectivamente.

MANTEGA X REAL FORTE
Esta coluna era concluída no momento em que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciava outras medidas contra o real forte demais. Elevou o IOF sobre aplicações de "estrangeiros" em renda fixa e encareceu e tornou mais arriscadas as operações no mercado futuro de dólar (também via IOF). Faz sentido, em especial mexer na BM&F. Mas falta plano mais coordenado. O problema do câmbio não é de curto prazo. As medidas do governo, sim.

vinit@uol.com.br


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