São Paulo, domingo, 19 de dezembro de 2010

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Hermès renega investida de conglomerado do luxo

Bernard Arnault, da LMVH, adquiriu 17,1% das ações da empresa

Herdeiros temem perda de qualidade dos produtos da marca francesa e tentam barrar a abordagem

Divulgação
Nova loja da Hermès em Paris, cujo projeto demorou sete anos para ser concluído

SIMONE ESMANHOTTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Franceses, pela cartilha social, se sentem à vontade para tocar nos assuntos mais íntimos, de traições a crenças políticas, entre goles de champanhe Taittinger. Mas dinheiro é um assunto proibido em sociedade, endereçado nas entrelinhas.
Para não deixar que um recente imbróglio ofuscasse a inauguração, em novembro, da loja Hermès Rive Gauche, Patrick Thomas, presidente do Hermès International, resumiu a posição do grupo diante do anúncio de que o seu novo e maior sócio individual é Bernard Arnault.
Trata-se do empresário à frente do maior conglomerado de luxo do mundo, o LVMH (Louis Vuitton Möet Hennessy).
"Não somos movidos a lucro, a resultados financeiros e não acreditamos em mercado de massa nem em ser símbolo de status. Somos pela elegância, pela discrição e pela perfeição dos nossos produtos", disse Thomas.

COMPRA HOSTIL
O grupo de Arnault soltou um comunicado em 23 de outubro afirmando deter 17,1% das ações da Hermès International. Até então a família, dona de 73,4% das ações, desconhecia a presença de Arnault como acionista. A compra foi considerada hostil pelos herdeiros.
"É importante nos mantermos independentes. Não queremos pertencer a qualquer conglomerado de luxo. Sequer acreditamos na palavra luxo", completou Thomas, o primeiro executivo sem laços de família a comandar a empresa em 173 anos de história.
Num país em que a indústria de produtos finos é uma das âncoras do PIB de US$ 2,7 trilhões e faz parte do cotidiano dos parisienses,a compra foi apelidada de "guerra das bolsas".
Com faturamento de 17 bilhões e lucro de 3,3 bilhões em 2009, o LVMH é um gigante à frente de grifes de roupas e acessórios (Louis Vuitton, Dior, Thomas Pink, Berluti), bebidas (Château d'Yquem, Chandon), relógios (Tag Heuer, Zenith, Hublot) e cosméticos (Sephora, Guerlain, Acqua di Parma).
Por conta dessa voracidade, franceses se perguntam se os produtos da casa fundada por Thierry Hermès em 1837 perderão a qualidade.
Temem a popularização, a exemplo do monograma de flores e siglas Louis Vuitton, uma das maiores vítimas da indústria da falsificação.
Em comunicado, Arnault já expressou que pretende "contribuir para a preservação do caráter familiar e francês" da Hermès.
Primeiro, os herdeiros pediram que Arnault se retirasse da sociedade, alegando que as companhias têm culturas diferentes.
Depois anunciaram a formação de uma holding com mais de 50% do capital acionário. O objetivo é impedir que o LVMH adquira mais fatias do império.

MOCINHA INGÊNUA
Há quem encare a Hermès como heroína. Parceiros e os pouco mais de 8.000 funcionários da Hermès International -detentora também da grife Jean Paul Gaultier, dos cristais Saint-Louis e dos sapatos centenários e de cinco dígitos John Lobb- fizeram um anúncio de página inteira nos jornais "Le Monde" e "Journal du Dimanche".
O texto expressava "apoio e confiança na família e na gerência para salvaguardar os valores, o savoir-faire e a cultura da casa".
Para outros, a grife é a mocinha ingênua da novela. Karl Lagerfeld, diretor de criação da Chanel, defendeu o direito de compra da LVMH, "já que a Hermès está na Bolsa de Valores". "Se eles querem se manter uma empresa familiar, então têm de seguir o exemplo da Chanel e não abrir o capital."
A Hermès abriu o capital em 1993. As ações, na época, seriam equivalentes a 5. Hoje, flutuam no patamar de 145 -contra 120 da LVMH.
Ainda é cedo para responder aos fãs da Hermès qual o impacto, na marca, da entrada da LVMH.
Entre goles de Taittinger, a Hermès segue fazendo o que sabe de melhor e ignorando a presença de 17,1% de Bernard Arnault.
De fato, corre à boca pequena entre os funcionários da casa que o único significado de LVMH é "longa vida Maison Hermès". Uma ironia tipicamente francesa.


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