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Real é a moeda mais valorizada desde 2003
Alta foi de 89%, maior taxa entre 20 principais emergentes; valor está 8% acima de 1998, quando o câmbio era fixo
Câmbio real efetivo mede competitividade dos países; México e Coreia se beneficiam de moeda desvalorizada
ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO
O valor do real em relação
às moedas de seus principais
pares comerciais -descontada taxas de inflação- já é hoje 8% superior à média registrada em 1998, último ano de
sobrevivência do câmbio fixo
quando a evidente apreciação excessiva culminou na
maxidesvalorização de janeiro de 1999.
A conta foi feita com base
em dados do JPMorgan para
o chamado câmbio real efetivo -importante medida de
competitividade de um
país- que no caso do Brasil
atingiu em setembro passado o patamar mais apreciado
desde meados de 1990.
O câmbio real efetivo mede o valor de uma moeda em
relação àquele de seus principais parceiros comerciais,
descontando as variações de
inflação registradas pelos
mesmos. No caso do Brasil, o
índice de inflação utilizado
pelo JPMorgan é o IPC (Índice
de Precos ao Consumidor),
da Fundação Getulio Vargas.
O comportamento do índice brasileiro aponta para sobrevalorização crescente do
real e consequente perda de
competitividade doméstica.
Entre as moedas de 20 dos
principais emergentes, o
câmbio real efetivo brasileiro
é o que mais se apreciou
(88,7%) desde dezembro de
2003, época em que boa parte do efeito da forte depreciação ocorrida em 2002, em
meio à eleição de Lula, já havia passado e em que a volatilidade das moedas de países em desenvolvimento estava bem acomodada.
Outra medida muito
acompanhada por economistas é a posição do câmbio
real efetivo em relação à sua
média histórica. Usando essa
comparação (e tomando dezembro de 1992 como início
da série), o real é a terceira
moeda mais valorizada
(33%), perdendo para Rússia
(41%) e Hungria (38%).
Júlio Callegari, economista do JPMorgan, diz que a
principal causa da apreciação do câmbio real efetivo
brasileiro é a robusta demanda pelas commodities produzidas pelo país. Isso tem feito
com que os preços dos bens
exportados pelo Brasil estejam em patamar bem mais
elevado que os dos produtos
importados.
"Todos os importantes exportadores de commodities
estão passando por isso."
Em seguida na lista de
causas da apreciação do real,
segundo Callegari, vêm as
boas perspectivas de crescimento da economia doméstico e os juros elevados praticados no Brasil, que ajudam
a atrair capitais de fora.
Ainda que parte da atual
sobrevalorização do real reflita causas positivas, seu
efeito negativo sobre a competitividade da indústria brasileira provoca preocupação.
Ruben Damião, sócio da
Galeão Serviços de Investimentos, aponta que o câmbio real efetivo de México e
Coreia está desvalorizado em
relação às suas médias históricas: "Isso tem um efeito
perverso para o Brasil. O México afeta nossa competitividade na indústria automotiva, e a Coreia, na indústria
pesada e de componentes".
Essa dinâmica tem contribuído para um crescente deficit nas transações do Brasil
com o exterior, que chegou a
2,32% do PIB (Produto Interno Bruto) em agosto e caminha rumo à média de 4% registrada entre 1998 e 2000.
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