São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

A guerra no mar de dólares


China eleva juros, mas mira inflação, não o yuan; governo brasileiro diz que tem mais bala na agulha


OS DONOS do dinheiro grosso reagiram de modo previsível e inevitavelmente estereotipado ao aumento da taxa de juros na China. Se o juro sobe, em tese a China cresce menos, diminuem as compras chinesas de commodities e quase tudo mais, cai o preço do petróleo, cai o preço dos metais, as moedas de países vendedores de commodities se desvalorizam, o dólar sobe um tico -essa é a reação estereotipada.
Não tem muito como ser de outro modo até porque os investidores precisam refazer umas continhas e reajustar suas "carteiras" (o quanto têm investido em quê). Mas algo de essencial mudou? Foi só a China que balançou os indicadores financeiros mais midiáticos? A China "piscou" e vai deixar sua moeda se valorizar? Não. Não. Não parece.
Primeiro "não": os EUA vão continuar a transfusão de dinheiro para sua economia anêmica "por um longo período", como diz o banco central deles -talvez até 2012.
Segundo "não": o mercado não levou apenas o susto da China. Vários rolos da crise imobiliária americana têm reaparecido. Ontem reapareceu um grande. Grandes investidores e o Fed de Nova York, entre outros menos cotados, haviam comprado títulos lastreados em hipotecas bichados do Bank of America. Querem que o BofA, maior banco dos EUA, os recompre. O mercado, pois, vendeu ações de bancos.
Terceiro: não parece que o governo chinês vá bulir com a sua moeda, segundo entendidos e, de resto, segundo as ações visíveis da China. O governo, parece, quer mais é conter a inflação do modo mais cauteloso possível e, em particular, quer evitar bolhas de ativos como imóveis.
Cogitam mais um monte de medidas "administrativas" a fim de conter a especulação com ativos reais: dificultar financiamentos, limitar a compra de casas por família, assustar uns dirigentes de bancos e administradores provinciais.
Os chineses vinham tentando limitar os empréstimos dos bancos (aumentando exigências de reservas). Não colou. Os juros subiram, mas só um tico (por falar nisso, a taxa real para depósitos a prazo é negativa, o que incentiva a especulação com "ativos reais"). O índice de inflação do consumidor está em torno de 3,5% (anual), mas o preço médio dos imóveis cresceu o triplo (na média do índice oficial), os salários também -mas há regiões em que a disparada de preços é muito maior.
Os chineses temem uma bolha à japonesa e uma mexida no câmbio que desorganize a economia e estimule protestos. Há dinheiro barato demais na praça mundial, por causa dos EUA; o crédito estava solto demais também na China. Se o yuan vai subir ou cair um tico devido à alta de juros, há controvérsia. Mas a bolha, não o câmbio, parece ter sido o alvo. Um estouro da bolha chinesa faria o problema do yuan fraco parecer um estalinho de São João.

NO BRASIL, CÂMBIO
Gente do governo diz que não acabou o estoque de medidas de intervenção no mercado cambial -controle de capitais, vamos falar claramente. O governo havia sugerido na semana passada que esperaria até novembro antes de baixar outros controles. Não esperou. Mas faz questão de mandar novos recados ao "mercado". Pelo menos para "deixar alguns investidores indesejáveis" mais intranquilos, diz um integrante do governo.

vinit@uol.com.br


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