São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

País excedeu limite de velocidade, mas governo controlará inflação até fim do ano

GAVYN DAVIES
DO "FINANCIAL TIMES"

Os dados sobre o desempenho econômico chinês em dezembro, divulgados ontem, sugerem que as autoridades ainda não conseguiram desacelerar a economia o suficiente para controlar as pressões inflacionárias.
Novos apertos monetários virão. No entanto, boa parte da reação imediata a esses números me parece ter exagerado a severidade das pressões de superaquecimento. É provável que o governo tenha a capacidade de tomar o controle da situação antes do fim de 2011.
Em uma economia desenvolvida como os EUA, determinaríamos se a economia está superaquecida ao comparar o nível atual de produção à tendência subjacente.
Os indícios sugerem que essas medidas de "frouxidão" na economia provavelmente exercem mais efeito sobre a inflação do que o ritmo de crescimento da economia. Ou seja, os efeitos de nivelação tendem a superar os efeitos de crescimento, em economias desenvolvidas.
Mas é muito mais difícil defender esse ponto de vista com relação à China.
Há como estimar a capacidade ociosa por meio de comparações entre o nível atual do PIB e diversas estimativas quanto à sua tendência subjacente, e meus cálculos sugerem que a produção no momento está cerca de 2% acima da tendência.
No entanto, tenho sérias dúvidas quanto à validade desse método para a China, porque o conceito de crescimento "normal" ou "subjacente" do PIB é muito mais difícil de definir lá.
A China está passando por um processo prolongado de convergência com as economias desenvolvidas, e surge inflação quando os limites de velocidade para essa convergência são excedidos.
Esses limites são determinados por fatores como a rapidez com que a mão de obra rural é capaz de migrar para as cidades e a indústria, e a rapidez com que o estoque de capital pode ser ampliado de maneira a absorver a oferta de mão de obra existente.

ANOS 90
O limite de velocidade para a economia chinesa é provavelmente de cerca de 8% a 9% anuais. O crescimento na produção industrial é provavelmente da ordem de 12% a 13%. Quando esses limites de velocidade são excedidos, há alta da pressão inflacionária.
O PIB excedente atingiu nível elevado no período 1991-1993, que culminou com uma desvalorização de 35% do yuan no fim de 1993. Isso produziu surto de inflação. Desde então, o período mais severo de crescimento "excessivo" aconteceu em 2005-2007, quando a inflação atingiu 8% anuais.
Mas o crescimento excedente do PIB no ciclo atual vem sendo menos severo. Se presumirmos que medidas decisivas de política econômica serão tomadas no futuro próximo, e se essa suposição se confirmar, o crescimento da China deve cair, e o gênio da inflação será trancafiado na garrafa uma vez mais antes do fim do ano.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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