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commodities
Bahia usa borracha para tentar recuperar cacau
Programa prevê o plantio de seringueiras para dar sombra aos cacaueiros
Troca para o sistema com a borracha pode aumentar o rendimento anual por hectare de R$ 1.800 para R$ 10,8 mil
MATHEUS MAGENTA
DE SALVADOR
Nos anos 1980, a lavoura
cacaueira do sul da Bahia foi
devastada pela praga chamada vassoura-de-bruxa.
Para tentar recuperar as lavouras, o Estado aposta agora na implantação, em larga
escala, de um sistema que
usa seringueiras para produção de borracha, sequestro
de carbono e sombreamento
para os cacaueiros clonados,
resistentes à praga.
Segundo a Ceplac (Comissão Executiva do Plano da
Lavoura Cacaueira), do Ministério da Agricultura, a
substituição da monocultura
do cacau para o sistema com
a borracha pode aumentar o
rendimento anual por hectare de R$ 1.800 para R$ 10,8
mil, em média.
Para os técnicos, o sistema
é considerado mais vantajoso em razão do sombreamento adequado, do preço da
borracha e da sustentabilidade (geração de empregos e
créditos de carbono).
Como a seringueira leva
oito anos para atingir a altura
ideal para o sombreamento
do cacaueiro, são utilizadas
bananeiras como sombra intermediária e rentável.
Em reunião na Comissão
de Agricultura do Senado,
Jay Wallace da Silva, diretor-geral da Ceplac, disse ainda
que esse modelo é mais viável que a monocultura da seringueira porque o cacau clonado e a banana começam a
ser produzidos a partir do segundo ano após a colheita.
O órgão quer investir quase R$ 680 milhões no sistema
nos próximos seis anos.
Dos 150 mil hectares com
uso de cacau clonado (grande parte em monocultura),
mais de 12 mil hectares já
adotam esse tipo de plantio.
Ambientalistas temem
que a mudança do sistema
cabroca (com mata nativa)
para o plantio simultâneo da
seringueira e do cacaueiro
agrave a destruição da mata
atlântica nativa.
DÍVIDA PESADA
A diversificação do plantio
ainda não resolve o principal
problema dos cacauicultores
da região: a dívida de quase
R$ 1 bilhão, contraída em
uma das tentativas de reerguer a cultura cacaueira.
O PAC do Cacau, lançado
pelo presidente Lula há dois
anos para tentar reerguer a
região, ainda não saiu do papel. Segundo o governo federal, a renegociação das dívidas depende, num primeiro
momento, da iniciativa dos
próprios produtores rurais.
"Até hoje o PAC do Cacau
não apareceu por aqui. Continuamos endividados e sem
financiamento para implantar novos sistemas", disse Isidoro Gesteira, presidente do
sindicato de produtores rurais de Ilhéus.
Estima-se que 200 mil pessoas ficaram desempregadas
após a vassoura-de-bruxa.
Em visita a Ilhéus em março deste ano, Lula disse que
"não existe possibilidade de
perdão total das dívidas porque senão você habitua as
pessoas a tomar dinheiro emprestado e não pagar".
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