São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 2011

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"Spread" depende do governo, diz o novo presidente da Febraban

Para Murilo Portugal, queda da diferença entre juro cobrado e pago pelos bancos interessa ao setor

Executivo disse ter expectativa de que o crédito ao setor privado continue crescendo mais rápido que o PIB

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

A queda dos alto "spread" bancário (diferença entre os juros que as instituições financeiras pagam para captar e cobram para emprestar recursos) depende principalmente do governo.
A opinião é de Murilo Portugal, que está deixando o FMI para assumir a presidência da Febraban, federação que representa os bancos.
Portugal também defende a necessidade de um debate sobre as limitadas fontes de financiamento de longo prazo no Brasil.

 
Crédito bancário
Minha expectativa é que o crédito ao setor privado continue crescendo mais rápido que o PIB. Esse é um processo positivo, principalmente em países como o Brasil, onde o crédito ao setor privado ainda é baixo como percentagem do PIB em comparação à média internacional.
Mas é essencial que essa expansão seja feita com responsabilidade por parte de tomadores e emprestadores de recursos, sem perda da qualidade do crédito e sem comprometer a solidez do sistema.

"Spreads" bancários
Penso ser de interesse dos bancos a queda dos "spreads", como já vem ocorrendo. Para isso, é preciso que melhorem as condições que determinam os "spreads". Isso tem que ser trabalho de toda a sociedade. Na verdade, depende mais do setor público do que dos bancos, mas os bancos têm que participar e contribuir.
O principal componente dos "spreads" bancários é o risco de crédito, a inadimplência, que representa um terço dos "spreads". Compare, por exemplo, a diferença entre os "spreads" do cheque especial e do crédito com pagamento consignado ou do crédito para aquisição de veículos com reserva de domínio. Essa comparação mostra que os "spreads" seriam muito reduzidos se se pudesse reduzir a inadimplência.
As medidas necessárias para reduzir os custos da inadimplência incluem a simplificação da execução de garantias e da recuperação dos empréstimos, maior celeridade dos processos judiciais, que no Brasil levam vários anos para serem concluídos, e melhores informações sobre os bons pagadores, o chamado cadastro positivo, que foi discutido por tanto tempo no país e apenas recentemente entrou em vigor com uma medida provisória, apenas para citar alguns.
Outro componente importante dos "spreads" que não depende dos bancos são os impostos diretos e indiretos e demais encargos fiscais e parafiscais, tais como o custo do compulsório, dos subsídios e do direcionamento de crédito. Esses custos no Brasil são mais altos do que a média internacional e, em conjunto, representam cerca de 25% na composição dos "spreads". Os custos administrativos enfrentados pelos bancos, que representam 16% dos "spreads", são outro fator que apenas parcialmente está sob o controle dos bancos e que, estou seguro, os bancos procuram reduzir.

BNDES e financiamento
O BNDES foi criado em razão da inexistência de um mercado para empréstimos de longo prazo no Brasil. Desde sua criação, em 1952, deu uma contribuição importante para o desenvolvimento econômico brasileiro. Financiou a infraestrutura básica, as exportações, a indústria naval, a eletrificação, apenas para citar alguns exemplos. Uma parte importante dos empréstimos do BNDES é realizada por meio do sistema bancário privado.
Graças ao seu acesso a fontes de financiamento subsidiadas, como impostos sobre a folha de salário e empréstimos subsidiados do Tesouro, o BNDES consegue estender empréstimos com uma maturidade média de cinco a dez anos. Mas é claro que isso envolve um custo fiscal significativo para o Tesouro. Não é um método sustentável para expandir a oferta de crédito de longo prazo no Brasil.
Há, assim, um debate importante sobre o que é necessário para expandir o mercado de capitais e a capacidade dos bancos privados de emprestar no longo prazo. Isso requer que os bancos tenham fontes de financiamento também de longo prazo e envolve questões referentes à lucratividade ajustada ao risco desses empréstimos face a outras alternativas, como, por exemplo, a taxa de juros para títulos públicos. Esse é um debate que precisa ser feito no Brasil.


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