São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2010

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Fluxo de remessas de filiais ajuda a manter o real valorizado

Volume recorde é impulsionado pela diferença entre os juros lá fora e as taxas domésticas

Subsidiárias no exterior vêm aproveitando, desde 2009, para quitar dívidas contraídas com as matrizes brasileiras

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

O caixa das empresas brasileiras tem sido reforçado por um fluxo recorde de remessas de dinheiro de suas filiais no exterior para o país, o que vem contribuindo para manter o real valorizado.
Essa tendência é nova e tem sido impulsionada por dois movimentos distintos.
Desde 2009, as subsidiárias de empresas brasileiras no exterior vêm aproveitando para quitar dívidas contraídas no passado com suas matrizes.
Mas as filiais têm ido além de pagar o que devem. Há cerca de três anos, iniciaram um movimento até então incomum no mundo dos negócios globais e vêm fornecendo empréstimos às suas próprias matrizes no país.
Somados todos os fluxos financeiros de matrizes para filiais e vice-versa entre janeiro e setembro deste ano, restou um saldo positivo de US$ 11,4 bilhões para o Brasil. Os dados são do Banco Central, que não divulga os nomes das empresas envolvidas nessas operações.
Esse movimento de remessas líquidas em operações de crédito de subsidiárias para as matrizes no Brasil é recente. Desde o início da série histórica do BC em 1999, isso ocorreu apenas em 2007 e em 2009, e volta a se repetir, com maior força, em 2010.
Do recorde de US$ 15,3 bilhões que as filiais enviaram para o Brasil entre janeiro e setembro de 2010, US$ 11 bilhões vieram para cobrir amortizações de dívidas assumidas com as matrizes, principalmente de 2007 a 2008, quando a crise financeira global levou a um colapso do mercado de crédito em países desenvolvidos.
Outros US$ 4,3 bilhões remetidos pelas subsidiárias para o país nos primeiros nove meses deste ano se referem a empréstimos concedidos às matrizes.

JUROS ATRATIVOS
Segundo analistas ouvidos pela Folha, a conjuntura econômica doméstica e a internacional ajudam a explicar as novas táticas empregadas pelas multinacionais brasileiras para administrar seus caixas.
Com a explosão da crise financeira global, os juros em países desenvolvidos -cujas economias se recuperam em ritmo lento- têm sido mantidos em patamares historicamente muito baixos.
No Brasil, por outro lado, a taxa básica de juros está em 10,75%, nível que continua muito elevado para padrões internacionais.
Isso pode estar funcionando como um incentivo para as subsidiárias de multinacionais brasileiras mandarem eventuais sobras de caixa ou recursos levantados a custos mais baixos lá fora para suas matrizes.
"Com o excesso de liquidez nos países desenvolvidos, as empresas conseguem se financiar de forma mais barata lá fora. Isso pode explicar esse fluxo de recursos financeiros de filiais para matrizes", afirma Mauricio Molan, economista sênior do Santander.
Para analistas, é provável que pelo menos parte dos recursos enviados por filiais para matrizes brasileiras tenha como destino investimentos no mercado financeiro doméstico.
"É muito provável que esses recursos tenham como destino investimentos financeiros aqui, para lucrar com os juros altos", diz Rita Mundim, professora da Fundação Dom Cabral.
Segundo Antonio Corrêa de Lacerda, economista e professor da PUC-SP, os números do Banco Central mostram que está em curso uma mudança na forma em como as multinacionais operam seus caixas.
"As empresas estão reposicionando seus fluxos de caixa em função da crise global", afirma.


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