|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Fluxo de remessas de filiais ajuda a manter o real valorizado
Volume recorde é impulsionado pela diferença entre os juros lá fora e as taxas domésticas
Subsidiárias no exterior vêm aproveitando, desde 2009, para quitar dívidas contraídas com as matrizes brasileiras
ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO
O caixa das empresas brasileiras tem sido reforçado
por um fluxo recorde de remessas de dinheiro de suas
filiais no exterior para o país,
o que vem contribuindo para
manter o real valorizado.
Essa tendência é nova e
tem sido impulsionada por
dois movimentos distintos.
Desde 2009, as subsidiárias de empresas brasileiras
no exterior vêm aproveitando para quitar dívidas contraídas no passado com
suas matrizes.
Mas as filiais têm ido além
de pagar o que devem. Há
cerca de três anos, iniciaram
um movimento até então incomum no mundo dos negócios globais e vêm fornecendo empréstimos às suas próprias matrizes no país.
Somados todos os fluxos
financeiros de matrizes para
filiais e vice-versa entre janeiro e setembro deste ano,
restou um saldo positivo de
US$ 11,4 bilhões para o Brasil. Os dados são do Banco
Central, que não divulga os
nomes das empresas envolvidas nessas operações.
Esse movimento de remessas líquidas em operações de
crédito de subsidiárias para
as matrizes no Brasil é recente. Desde o início da série histórica do BC em 1999, isso
ocorreu apenas em 2007 e em
2009, e volta a se repetir, com
maior força, em 2010.
Do recorde de US$ 15,3 bilhões que as filiais enviaram
para o Brasil entre janeiro e
setembro de 2010, US$ 11 bilhões vieram para cobrir
amortizações de dívidas assumidas com as matrizes,
principalmente de 2007 a
2008, quando a crise financeira global levou a um colapso do mercado de crédito
em países desenvolvidos.
Outros US$ 4,3 bilhões remetidos pelas subsidiárias
para o país nos primeiros nove meses deste ano se referem a empréstimos concedidos às matrizes.
JUROS ATRATIVOS
Segundo analistas ouvidos pela Folha, a conjuntura
econômica doméstica e a internacional ajudam a explicar as novas táticas empregadas pelas multinacionais
brasileiras para administrar
seus caixas.
Com a explosão da crise financeira global, os juros em
países desenvolvidos -cujas
economias se recuperam em
ritmo lento- têm sido mantidos em patamares historicamente muito baixos.
No Brasil, por outro lado, a
taxa básica de juros está em
10,75%, nível que continua
muito elevado para padrões
internacionais.
Isso pode estar funcionando como um incentivo para
as subsidiárias de multinacionais brasileiras mandarem eventuais sobras de caixa ou recursos levantados a
custos mais baixos lá fora para suas matrizes.
"Com o excesso de liquidez nos países desenvolvidos, as empresas conseguem
se financiar de forma mais
barata lá fora. Isso pode explicar esse fluxo de recursos
financeiros de filiais para
matrizes", afirma Mauricio
Molan, economista sênior do
Santander.
Para analistas, é provável
que pelo menos parte dos recursos enviados por filiais
para matrizes brasileiras tenha como destino investimentos no mercado financeiro doméstico.
"É muito provável que esses recursos tenham como
destino investimentos financeiros aqui, para lucrar com
os juros altos", diz Rita Mundim, professora da Fundação
Dom Cabral.
Segundo Antonio Corrêa
de Lacerda, economista e
professor da PUC-SP, os números do Banco Central mostram que está em curso uma
mudança na forma em como
as multinacionais operam
seus caixas.
"As empresas estão reposicionando seus fluxos de caixa em função da crise global", afirma.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Frases Índice | Comunicar Erros
|