São Paulo, sábado, 23 de abril de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

ROBERTO RODRIGUES

Páscoa vermelha


Não é mais aceitável que a beleza da Páscoa seja comprometida pelas invasões de terra


AMANHÃ celebraremos mais uma Páscoa, e famílias do mundo inteiro estarão irmanadas nessa grande efeméride do cristianismo. Curiosamente, essa data é universalmente comemorada com ovos de chocolate.
Na antiguidade, costumava-se pintar a casca de ovos de galinha (deles excluídos o conteúdo) com cores bem alegres porque o ovo é um símbolo do nascimento, e a Páscoa celebra a ressurreição de Cristo; muito mais tarde, com o advento da indústria do chocolate, os "pâtissiers" franceses passaram a rechear ovos vazios com esse produto; depois, os ovos de galinha sumiram: atribui-se essa mudança ao fato de a igreja proibir o consumo de carne durante a quaresma, de modo que ovos de chocolate seriam mais apropriados que os de galinha.
Neste ano, não será diferente. O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) realizou pesquisa sobre o preço dos ovos de Páscoa e revelou que alguns deles estão em média 20% mais caros do que no ano passado (pesquisa realizada entre 18 e 22 de março, em São Paulo, nas Lojas Americanas, no Pão de Açúcar Delivery e no Supermercado Sonda).
Já a Abicab (Associação Brasileira da Indústria do Chocolate) informa que os ovos ficaram apenas 7,5% mais caros que em 2010 e que isso se deve ao aumento do preço do açúcar, que encareceu 20% nos últimos 12 meses.
A Abicab acredita que neste ano serão consumidos cerca de 30 milhões de toneladas de chocolate, quase 20% mais que no ano passado. A festa pascoal produz um impacto impressionante sobre o comércio de ovos, e é natural que seus preços subam. Em média, um ovo de 500 gramas fica em torno de R$ 30, quase o dobro do valor de uma barra de chocolate do mesmo peso.
Esse consumo também se explica pelo aumento da renda do brasileiro: nosso país já é o 5º maior produtor mundial de ovos de Páscoa e o 4º maior consumidor, segundo o Sebrae. E não só na Páscoa: no ano passado, cada brasileiro consumiu 1,3 quilo de chocolate, enquanto no campeão mundial, a Inglaterra, chega-se a 12 quilos por pessoa!
E o produtor de cacau, como fica nesse cenário? O Brasil é o 6º maior produtor mundial, com cerca de 180 mil toneladas por ano em média, mas importa outras 50 mil toneladas para atender ao mercado interno: o cacau vem de Gana, da Indonésia e da Costa do Marfim, que é o maior exportador mundial.
Para o cacauicultor, o preço subiu apenas 6% do ano passado para cá. É curioso isso: parece que o chocolate nasce na chocolateria, e o ovo de Páscoa, nos supermercados. As pessoas se esquecem completamente de que sem o cacau não haveria essa delícia que alegra a Páscoa de todas as crianças do mundo e o dia a dia dos chocólatras inveterados.
Ninguém lembra que o Sonho de Valsa, tradicionalíssimo bombom brasileiro, só existe porque tem gente produzindo leite, açúcar, castanha de caju, soja, amendoim, trigo e cacau no país. Parece que o bombom nasce de geração espontânea.
De novo, é a agricultura que está por trás da alegria e da doçura da Páscoa. É o agricultor que leva a alegria para os milhares de crianças que sorriem de júbilo quando encontram um ovo escondido pelos pais. E que jamais esquecerão a delícia pascoal, com as famílias reunidas.
Mas, assim como os cacauicultores não participam dessa festa na proporção de seu trabalho, outros produtores rurais foram mais uma vez agredidos pela invasão de suas terras pelos chamados movimentos sociais.
Propriedades produtivas foram invadidas, sem a menor razão de ser, um verdadeiro absurdo! O país vive um momento positivo, com o desemprego mais baixo dos últimos anos, faltando gente para tudo quanto é setor. Estamos numa fase de crescimento acentuado, a democracia está consolidada, não há mais espaço para violências dessa natureza. Isso é ilegal, e a segurança jurídica no campo é tão essencial quanto a segurança pública dos cidadãos urbanos.
Não é mais aceitável que a beleza da Páscoa seja comprometida por esse tipo de ação que a modernidade deve rejeitar.

ROBERTO RODRIGUES, 67, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Depto. de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.

rr.ceres@uol.com.br

AMANHÃ EM MERCADO:
Fábio Barbosa


Texto Anterior: Foco: Nos EUA, montaria em touro é considerada esporte radical
Próximo Texto: Automotivo: Toyota prevê produção normal em 2012
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.