São Paulo, quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ENTREVISTA ARIANNA HUFFINGTON

Expressar-se na internet é o entretenimento da nova era


PARA COFUNDADORA E CHEFE DE REDAÇÃO DO JORNAL DIGITAL "HUFFINGTON POST", ISSO EXPLICA A CONTRIBUIÇÃO DAS PESSOAS EM SITES COMO A WIKIPEDIA


Fotos Eduardo Knapp/Folhapress
Arianna Huffington, no último dia de sua visita ao Brasil

DE SÃO PAULO

A autoexpressão na internet é o entretenimento da nova era, diz Arianna Huffington, cofundadora e chefe de redação do site norte-americano "The Huffington Post", referência no jornalismo digital, em debate realizado ontem na Folha.
Isso explica, diz ela, o fato de que as pessoas atualizam verbetes na Wikipedia, publicam fotos e vídeos e comentam notícias de forma voluntária.
"Quando as pessoas ficavam sete horas no sofá assistindo a péssimos programas na TV, ninguém se perguntava por que elas faziam isso sem ganhar nada", diz. "Expressar-se é um grande entretenimento, uma forma de participar da vida, de se ver como parte da história do nosso tempo. É fantástico."

 


JORNALISTA CIDADÃO
Huffington contou que nas eleições presidenciais de 2008, 13 mil jornalistas cidadãos contribuíram com histórias. "Uma das histórias, fruto de trabalho árduo e sorte, foi parar na capa do nosso site", disse. O "HP" recebe em média contribuições de 4 milhões de pessoas por mês, entre comentários, imagens e histórias com informações.

CURADORIA EDITORIAL
O papel do editor na era do jornalismo cidadão, segundo Huffington, é servir como um curador do material gerado espontaneamente. "Mais do que nunca precisamos de editores para analisar todo esse conteúdo e selecionar o que pode entrar ou não."
Na cobertura da crise do programa nuclear do Irã, o "Huffington Post" também atuou de forma diferenciada, publicando relatos de pessoas comuns via Facebook, Twitter, e fotos tiradas no celular. "Nosso editor de internacional virou noites. Seu trabalho era curar esses relatos. Nós nunca apresentamos a informação crua."
Para Huffington, todo mundo pode ser jornalista nos tempos atuais. Porém, diz, "nem todos serão bons jornalistas". Para ela, a busca pela verdade, a checagem de fatos, o senso de justiça e a precisão são valores do jornalismo, independentemente da plataforma.

JORNALISMO OBSESSIVO
O jornalismo on-line, diz Huffington, está mudando a forma de apresentar as grandes notícias. A mídia tradicional, segundo ela, introduz uma notícia e depois a abandona.
Para gerar impacto na web, porém, ela acredita que o jornalismo precisa "manter os assuntos vivos de forma obsessiva", adicionando novos desdobramentos, estimulando leitores a contribuir com comentários e informação. "É da natureza do on-line evoluir com a história."
Um exemplo é a política americana com relação ao Afeganistão. "Escrevemos sobre isso diariamente e nossos leitores mandam histórias de toda parte do mundo."
Mas ela não vê conflitos entre as mídias tradicional e digital. "O futuro vai ser híbrido, com a mídia tradicional abraçando o jornalismo on-line, como vocês estão fazendo, com 17 milhões de visitantes únicos por mês na web", afirma Huffington, que se declarou assinante de sete jornais impressos nos EUA.
"Gosto do jornal em papel. E não é só porque não gosto de sujar meu iPad de geleia no café da manhã."

NOTÍCIA A GALOPE
Para Huffington, a forma com que as pessoas consomem notícia mudou. "Antes as pessoas consumiam notícia como se estivessem sentadas no sofá. Agora, é como se estivessem a galope. Você lê, passa adiante. Se engaja, interage. Mas o veículo impresso quando vai para a internet também faz esse tipo de jornalismo."

BLOGS
O site do "HP" conta com uma rede de 9.000 blogueiros voluntários. "Recebemos um conteúdo fantástico, pois escolhemos pessoas interessantes. E elas ganham uma grande plataforma, com moderação de comentários."
O mais novo blogueiro é o publicitário Nizan Guanaes, que ofereceu um jantar para Huffington na noite de terça-feira, em São Paulo.
Ela gostou de uma tirada de Nizan sobre o próprio casamento -de que seu divórcio foi um fracasso e por isso ele reatou com Donata Meirelles. "O blog é uma conversa, para quem tem algo a dizer."
"Temos muitos blogueiros episódicos, que escrevem um post fantástico e param. E temos outros que escrevem uma vez, adoram e ficam viciados." Fazem parte do time de blogueiros o senador Al Franken, Robert Reich (ex-secretário do Trabalho no governo Clinton), Joe Solmonese (presidente da Human Rights Campaign) e a atriz January Jones.

RENTÁVEL
O "Huffington Post" é o segundo maior jornal em audiência na internet. Em novembro, contabilizou 26 milhões de visitas únicas, atrás apenas do site do "The New York Times", com 34 milhões de visitas.
Em 2010, o site dará lucro pela primeira vez desde sua fundação, em 2005. "Com credibilidade e audiência é possível atrair propaganda."

"HUFFPOST BRASILEIRO"
O site conta com 210 funcionários, entre jornalistas e pessoal administrativo. O negócio nasceu com um investimento de US$ 1 milhão, levantado com "amigos e família". Huffington e o sócio Ken Lerer pegaram outros US$ 10 milhões em empréstimos bancários até receberem, no final de 2008, um aporte de US$ 25 milhões do fundo Oak Investment Partners.
"Boa parte desse aporte não foi utilizado, pois ficamos rentáveis antes do previsto", diz. "Agora podemos fazer aquisições. Quem sabe não lançamos um "Huffington Post" brasileiro", brincou.


Texto Anterior: Folha lidera crescimento da venda de jornais no Brasil
Próximo Texto: Frase
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.