São Paulo, sábado, 24 de setembro de 2011

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ANÁLISE SISTEMA FINANCEIRO

Caso do UBS dá pistas do que é preciso mudar

Prejuízo causado por funcionário do banco suíço indica controle frouxo sobre as operações por parte da instituição

JAIRO SADDI

ESPECIAL PARA A FOLHA

Carsten Kengeter, chefe da divisão do banco de investimento suíço UBS, comparou os prejuízos causados por Kweku Adoboli, da filial de Londres, estimados em U$ 2,3 bilhões, a um "ataque terrorista" impossível de prever e de prevenir. Será?
Depois do escândalo do Société Générale, em 2008, em que tática semelhante foi usada por Jérôme Kerviel, causando um prejuízo de € 4.9 bilhões, é surpreendente que tais rombos voltem a ocorrer.
A reação do presidente do UBS, Oswald Grübel, 67, foi igualmente espantosa: pressionado para sair, negou qualquer responsabilidade e intenção de renúncia.
A fraude traduz um problema comum da mistura de falta de conhecimento com um controle frouxo sobre operações, que, no começo, aparentam ser altamente lucrativas, apenas para se revelarem um desastre de proporções pantagruélicas.
Somem-se a isso qualidades pessoais de ambição desmedida, incentivos errados de ganância e pura covardia e teremos mais mil anos dos mesmos escândalos.
Qualquer instituição precisa de controles e de incentivos corretos dos mecanismos de remuneração. Tudo isso foi sobejamente discutido na crise de 2008/9 e, aparentemente, ainda há pessoas que resistem a mudar.
No entanto, clamar por mais regulação e por ações de supervisão mais intensas é um erro. Se o sistema de controle de risco falhou, isso é um problema do acionista, não do Estado.
Se um banco de investimento não sabe ou não consegue controlar seu pessoal, é melhor que seja vendido para outro agente econômico mais competente.
Com a crise de 2008/9, a atividade de bancos de investimento como era então conhecida acabou. É evidente que o que os bancos de investimento faziam havia 30 anos mudou, e para sempre.
Não somente a volatilidade dos mercados impõe algo muito diferente, como a margem de lucro das operações e serviços de intermediação foi muito reduzida. Ou seja, os bancos agora se voltam para operações de tesouraria, que implicam maiores riscos.
Quanto devemos nos insurgir contra a atividade bancária de cassino? Acho que pouco. Mudar as instituições por causa de fatos isolados é perigoso e, em geral, equivocado. Mas mudar estruturas e incentivos é quase obrigação.
Mecanismos como o controle de gestão de capital que o Brasil criou há pouco são um exemplo bem acabado de instrumentos adequados e de avanços no assunto.
O prejuízo do UBS não deveria servir de lição apenas aos seus 17.775 empregados, mas, sim, a uma indústria que resiste em entender o que mudou, por que mudou e o que precisa ser mudado.

JAIRO SADDI é pós-doutor pela Universidade de Oxford, doutor em direito econômico pela USP e professor do Insper.


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