São Paulo, quarta-feira, 24 de novembro de 2010

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ANÁLISE TREM-BALA

Apesar das facilidades, faltam investidores

Recursos viriam do BNDES e de fundos de pensão de estatais, mas setor privado não se entusiasma pela obra

RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO

Poucos empreendedores encontram no dia a dia dos seus negócios condições tão favoráveis como as que o governo oferece aos grupos que se dispuserem a pôr o trem-bala brasileiro nos trilhos.
O BNDES promete emprestar R$ 20 bilhões para o projeto, orçado em R$ 33 bilhões. Fundos de pensão ligados a estatais entrariam com outra parte. Se houver menos passageiros no futuro do que se espera, as taxas de juros do empréstimo serão reduzidas.
Ainda assim, o governo encontra dificuldades para despertar o entusiasmo do setor privado pelo empreendimento. As empresas que estudaram o projeto acham que os custos foram subestimados e duvidam que o trem seja um bom negócio nos termos propostos por Brasília.
O governo tem resistido às pressões que sofre para adiar o leilão do trem-bala e mudar as condições estabelecidas para a licitação, mas essa teimosia poderá gerar complicações semelhantes às que a disputa pela hidrelétrica de Belo Monte gerou neste ano.
Duas das maiores construtoras do país, a Odebrecht e a Camargo Corrêa, desistiram do leilão poucos dias antes. Para garantir que houvesse competição, o governo articulou na última hora a formação de um consórcio com várias empresas menores e o grupo acabou vitorioso.
Encerrado o leilão, concluiu-se que as empresas participantes do consórcio não tinham capital suficiente nem a experiência necessária para um empreendimento desse porte. Estatais e fundos de pensão entraram no grupo para reforçá-lo e as grandes empreiteiras foram chamadas de volta para executar a obra sem assumir os riscos do investimento e da operação da hidrelétrica no futuro.
Ao contrário do que ocorreu no caso de Belo Monte, as grandes construtoras não demonstram muito interesse pelo trem-bala. Elas têm conversado com o governo e os grupos estrangeiros que detêm a tecnologia dos trens de alta velocidade, mas vencer o leilão não parece prioritário.
Isso significa que, se o governo insistir no projeto, ele provavelmente se verá obrigado, em algum momento, a assumir uma fatia maior dos custos para viabilizá-lo.


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