São Paulo, sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Saldo comercial de 2010 será o pior da era Lula

Negócios externos sentem o impacto da crise e a desvalorização do dólar

Até novembro, saldo das exportações menos importações era de US$ 14,9 bi; vendas externas podem bater recorde

JULIANA ROCHA
DE BRASÍLIA

A combinação de crise internacional e o forte crescimento econômico interno trouxe consequências negativas para o comércio exterior do país. O saldo comercial de 2010 será o pior da era Lula.
Até novembro, o resultado das exportações menos importações era de US$ 14,9 bilhões. O valor supera em quase US$ 2 bilhões o melhor desempenho do governo FHC, alcançado em 2002.
Ao contrário de FHC, que enfrentou quatro fortes crises internacionais seguidas, o presidente Lula chegou perto de fechar oito anos de mandato navegando em céu de brigadeiro no cenário econômico internacional.
Com os ventos favoráveis, a era Lula teve recordes de exportações (em 2008) e do saldo comercial (em 2006). Mas os impactos da crise financeira do segundo semestre de 2008 e a consequente desvalorização mundial do dólar mudaram o clima para os negócios externos.
No Brasil, os juros altos ajudaram a valorizar ainda mais o real. Aliado ao pujante consumo interno, as importações dispararam. De janeiro até a terceira semana deste mês, as compras somam US$ 176 bilhões.
A sete dias do fim do ano, a equipe econômica ainda tem esperanças de um recorde nas exportações. O maior valor já atingido foram os US$ 198 bilhões de 2008. A expectativa era chegar a US$ 195 bilhões neste ano.
Mas o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, lembra que um único embarque de uma grande empresa nos últimos dias deste mês pode gerar o recorde.

ENTRAVES
Em um balanço dos últimos oito anos, Barral admite que alguns entraves para a exportação não foram resolvidos pelo governo.
Ele destaca que os investimentos em logística foram menores que o crescimento das exportações. Por isso, os empresários ainda enfrentam custos elevados de frete, o que reduz a competitividade externa do Brasil.
O segundo problema é interno: o embate com a Receita Federal. O Ministério do Desenvolvimento defende a liberação mais rápida de créditos tributários. Mesmo se o melhor resultado das exportações for alcançado, o resultado ainda não agrada aos empresários da indústria.
Cresceram neste ano as vendas externas de commodities, ajudadas pela escalada dos preços desses itens. E houve queda nas vendas de produtos manufaturados.
Por isso, especialistas em comércio exterior alertam que a qualidade da pauta de exportações piorou.

CONTEÚDO RUIM
"A balança comercial pode ser boa no agregado, mas é péssima no conteúdo. As vendas de manufaturados perderam competitividade, e a China ainda invade o nosso mercado interno com produtos industrializados", critica Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de Comércio Exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
O representante dos empresários acredita em deficit da balança comercial no ano que vem caso as condições econômicas nacional e internacional se mantenham constantes.
Márcio Sette Fortes, professor do Ibmec-RJ, também aposta que as importações podem superar as exportações em 2011.
Mas ele culpa o governo norte-americano -e não o brasileiro- por esse cenário por causa da injeção de US$ 600 bilhões na economia dos Estados Unidos. Isso deve manter o dólar desvalorizado nos próximos anos.
Outro representante dos empresários, José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), acredita em superavit comercial e aumento das exportações, apostando na tendência de alta das commodities.


Texto Anterior: Foco: Ex-traficante agora cuida de uma equipe de entregadores
Próximo Texto: Análise: Deterioração da conta externa mostra que o Brasil vive além da sua capacidade
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.