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ANÁLISE AGRICULTURA
Foco do mercado de açúcar estará voltado para a Índia
Safra pouco acima do consumo deve levar país a importar para manter estoque
PLINIO NASTARI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Embora o consumo mundial de açúcar esteja crescendo 2,5% ao ano e nos últimos
20 anos o Brasil tenha sido o
seu maior supridor, é para a
Índia que todas as atenções
se voltam.
O deficit mundial observado nos dois últimos anos, de
14,5 milhões e de 11 milhões
de toneladas, respectivamente, deveu-se em grande
parte a safras frustradas na
Índia.
Nesses anos, o país registrou produções de 14,6 milhões e de 18,8 milhões de toneladas, insuficientes para
atender ao consumo médio
anual de 22,5 milhões de toneladas.
Para a safra 2010/11, que
começa em outubro, a produção é estimada entre 25 milhões e 26 milhões de toneladas, para um consumo interno de 23 milhões de toneladas.
Confirmado o prognóstico,
o estoque interno crescerá de
4,7 milhões para entre 6,7 milhões e 7,7 milhões de toneladas, entre outubro de 2010 e
setembro de 2011, volume
aquém daquele considerado
adequado pelo governo para
garantir a segurança do
abastecimento, de 9 milhões
de toneladas.
Nesse cenário, a continuidade das importações de
açúcar pela Índia, que em
2009/10 importou 4,3 milhões de toneladas, somente
se justificará por interesse
puramente comercial em realizar o refino de açúcar cru.
A questão mais importante é saber se após 2010/11 a
produção indiana continuará crescendo a ponto de permitir o retorno de suas exportações, como ocorreu em
2007/8, quando 7,82 milhões
de toneladas excedentes foram embarcadas.
O valor desse açúcar vendido ao mercado externo cobriu apenas o custo variável
de produção, levando o preço da commodity a apenas
US$ 0,09 por libra-peso,
amargando a vida de produtores e exportadores de todo
o mundo, principalmente do
Brasil.
Tudo indica que o novo pico da produção indiana deverá ocorrer em 2010/11, e
não no ano seguinte.
Embora há seis meses o
preço oferecido pela cana tenha atingido US$ 60 por tonelada (280 rupias por quintal, ou 100 quilos), atualmente esse preço caiu à metade, e
mesmo assim as usinas não
têm conseguido gerar recursos para pagar seus fornecedores de cana.
Na maior parte dos Estados produtores voltou não só
o desânimo com os preços,
mas também a desconfiança
de que tem valor relativo numa economia com elevado
grau de intervenção, e onde o
valor da matéria-prima não é
definido de forma justa e
consoante o preço dos produtos finais, como ocorre no
Brasil, mas sim por atos do
governo -na maior parte das
vezes, equivocados.
Se o pico indiano realmente ocorrer em 2010/11, essa
será uma boa notícia para o
mercado, pois a safra brasileira que começará em março
de 2011 deverá ter crescimento menor do que a demanda,
dando sustentação aos preços da commodity.
PLINIO NASTARI é presidente da Datagro
Consultoria.
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