São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2010

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Banco israelense recebeu US$ 2,2 bi de brasileiros

PF investiga 111 pessoas sob suspeita de remessa ilegal para agência de NY

Caso envolve grandes empresários; advogado quer parar investigação argumentando que há problemas na apuração

MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Os 111 brasileiros que estão sendo investigados pela Polícia Federal sob suspeita de remessa ilegal de dólares enviaram US$ 2,2 bilhões para uma agência do Israel Discount Bank, em Nova York, entre 2000 e 2005.
O valor, equivalente hoje a R$ 3,9 bilhões, foi apurado pela promotoria de Nova York numa investigação sobre lavagem de dinheiro em decorrência dos casos do Banestado, Merchants Bank e Beacon Hill, todos usados por doleiros brasileiros.
É com base na documentação levantada nos EUA que a PF está ouvindo nesta semana e na próxima os suspeitos de remessa ilegal. Dois delegados da PF do Paraná foram deslocados para São Paulo para tomar os depoimentos.
Ontem, a Folha revelou a existência da investigação sobre as contas secretas.
O caso está sob segredo de Justiça, mas se tornou ruidoso porque envolve grandes empresários, donos de joalherias e importadores, segundo a Folha apurou. A maior parte é de ascendência judaica, mas há empresários de outras origens na lista.
"Não sei por que esse caso provoca tanto barulho. É um desdobramento a mais de investigação sobre remessas aparentemente ilegais", diz a delegada Érika Marena.
Segundo ela, a PF já fez mais de 3.000 inquéritos com clientes de doleiros.
A apuração demorou cinco anos para ouvir os suspeitos por causa da complexidade das checagens, segundo a delegada. Em 2006, a Justiça brasileira recebeu da promotoria de Nova York informações sobre 221 contas do Israel Discount Bank supostamente de brasileiros.
Havia entre elas contas que não eram de brasileiros e outras que não tinham movimentação. A PF fez laudos técnicos de cada uma.
A Receita analisou se os clientes tinham declarado a conta no exterior -só oito haviam feito isso. Em 30 de agosto deste ano, após o expurgo das contas legais, o juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, mandou instaurar 111 inquéritos.
O Israel Discount Bank, o terceiro maior banco de Israel, sofreu uma investigação em 2005 da promotoria de Nova York porque não adotava todos os mecanismos previstos na lei dos EUA contra lavagem de dinheiro.
No caso da clientela brasileira, o banco não checava a origem do dinheiro, como prevê a legislação dos EUA após os ataques de 11 de setembro de 2001 -um dos alvos da lei é o financiamento ao terrorismo.
Doleiros brasileiros usavam a agência daquele banco, segundo a promotoria. Os investigados agora pela PF eram clientes dos doleiros, segundo Marena.

CONTESTAÇÃO
O advogado Alberto Toron entrou com um pedido de habeas corpus para parar a investigação porque vê problemas na apuração. "Assim como o réu não pode escolher juiz, o juiz não pode escolher causas. O juiz natural desse caso deve ser de São Paulo, não de Curitiba", defende.
O advogado Celso Vilardi também contesta a investigação. "A prova é ilícita. O Supremo já decidiu que não pode haver quebra de sigilo a partir de listas. Os casos têm de ser individualizados."


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