São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2010

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ANÁLISE PETRÓLEO

Viabilidade de novas jazidas depende dos preços futuros

THAÍS MARZOLA ZARA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A teoria econômica diz que a determinação dos preços, num mercado livre, se dá pela intersecção da oferta e da demanda.
Considerando o mercado de um bem cuja oferta é limitada por ser não renovável, como é o caso do petróleo, se esperaria que os preços subissem ao longo do tempo, conforme sua oferta, limitada pelas reservas existentes, fosse sendo reduzida.
Entretanto, observando a série histórica de preços dos últimos 30 anos, esse não é o quadro encontrado -ao contrário, em grande parte do período analisado houve tendência de queda.
Com tal alarde sobre o papel futuro do Brasil enquanto produtor de petróleo, a análise histórica dos preços se faz muito relevante.
Durante o início da década de 80, os preços do petróleo caíram continuamente, com redução mais forte em 1986.
Tal movimento foi resultado da entrada de mais ofertantes no mercado, incentivados pelos maiores preços decorrentes da restrição da oferta pela Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) nos anos 70.
Apesar de as reservas de petróleo serem limitadas, o preço maior tornou lucrativa a busca por outras reservas e viabilizou a extração em poços de maior custo.
Além disso, alguns membros do cartel do petróleo se sentiram tentados a burlar as restrições e a produzir um pouco mais.
No início da década de 90, com a Guerra do Iraque, houve aumento pontual dos preços, logo em seguida voltando à trajetória de leve queda.
O ponto mínimo dos preços ocorreu em dezembro de 1998 -desde então, os preços começaram a aumentar, alcançando o pico em setembro de 2008.
O que impulsionou de forma expressiva os preços entre 2004 e 2008 foi o pujante crescimento econômico mundial, com especial participação da China, que inflou a demanda por todas as commodities, inclusive as de energia.
Com a crise no final de 2008, os preços caíram, voltando à tendência anterior de alta já em fevereiro de 2009.
Assim como nos anos 70, agora o preço mais alto incentivou as pesquisas e novas descobertas foram feitas -o principal exemplo, e mais próximo, é o do petróleo da camada pré-sal.
Contudo, seus custos de extração são bastante elevados -devido à grande profundidade-, de forma que a viabilização econômica da exploração dessas jazidas dependerá, em grande medida, dos preços no futuro.
Diante de um crescimento mundial no mínimo bem mais moderado nos próximos anos, as incertezas quanto aos preços e à obtenção de recursos para investimentos na exploração do pré-sal aumentam.
Em suma: devagar com o andor, que o santo é de barro.


THAÍS MARZOLA ZARA é economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados e mestre em economia pela USP.
www.rosenberg.com.br


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