São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2011

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JULIO VASCONCELLOS

Bolha 2.0?


Somente no primeiro semestre do ano, 4 milhões de consumidores farão sua primeira compra on-line


WARREN BUFFETT, em uma de suas tiradas lapidares, afirmou que somente quando a maré baixa descobrimos quem é que estava nadando sem roupas. A frase é sempre lembrada quando se discute se o mercado está ou não vivendo um momento de euforia injustificada que leva à criação de bolhas de preços artificialmente inflados.
Nas últimas semanas, a imprensa internacional dedicou alguma atenção a uma possível bolha que estaria em formação no mercado de internet norte-americano. A revista "The Economist", para ficar em apenas um exemplo, dedicou sua reportagem de capa ao assunto. Na sequência, alguns observadores passaram a questionar se o Brasil também estaria vivendo um momento de otimismo exagerado no segmento de internet.
Em relação ao mercado brasileiro, acredito que as expectativas otimistas estejam lastreadas em fatos reais e comprováveis. Os fundamentos, representados por um conjunto de fatores que evoluíram bem nos últimos anos, são, por assim dizer, sólidos. Para retomar a imagem de Buffett, tivemos uma alteração permanente no nível médio do oceano, e não uma elevação temporária da maré, já que, além das evoluções recentes, temos também muito terreno para expansão futura.
Pesquisa recente divulgada pela consultoria e-bit revela que o e-commerce brasileiro faturou R$ 14,8 bilhões em 2010. Em valores nominais, isso representa crescimento de mais de 40% em relação a 2009.
Acredito que os números de 2011 apresentarão evolução ainda maior. Alguns dados parciais, como a projeção de que somente no primeiro semestre 4 milhões de consumidores farão sua primeira compra on-line, já são por si só animadores.
Esse crescimento é resultado de uma confluência de fatores: um cenário macroeconômico favorável, o aumento contínuo da penetração de internet no país e a expansão da classe C (tanto em relação à população como um todo como em relação à população de internautas).
O crescimento da economia brasileira como um todo tem ajudado. Em 2010, o PIB cresceu 7,5%, número expressivo mesmo se considerarmos a distorção gerada pela retração em 2009. Entender quem foram os grupos beneficiados por esse processo é relevante para compreender o que fundamenta o crescimento projetado. Um enorme contingente de pessoas da chamada "nova classe média" passou a entrar na internet e, com o tempo, passará também a consumir on-line.
Para ficarmos com um dado específico, estimativas divulgadas em reportagem recente da revista "Exame" indicam que 45 milhões de pessoas com renda familiar entre R$ 1.126 e R$ 4.824, apenas nos últimos três anos, passaram a entrar na rede regularmente. Conforme a mesma reportagem, "trata-se da maior migração já vista em direção a uma única mídia desde a chegada da televisão ao país, nos anos 1950".
A alta penetração de celulares na população (hoje existem mais linhas de celulares habilitadas do que brasileiros) tem ajudado a aumentar essa taxa de acesso à internet. Com preços de aparelhos cada vez mais baixos e pacotes de dados sendo ofertados a um custo menor daqueles cobrados por LAN houses, mais pessoas têm utilizado o celular para entrar na rede.
Isso tudo, é bom ressaltar, ainda sem que tenha ocorrido a ampla disseminação do uso de smarthphones no Brasil. À medida que o uso desse tipo de dispositivo -que proporciona uma experiência aprimorada de navegação para o internauta- for crescendo, teremos o aumento do número de novos usuários da internet e também o crescimento da frequência e das taxas de uso por parte daqueles que já estão on-line.
Por outro lado, ainda temos graves problemas de infraestrutura na área de telecomunicações. A penetração da banda larga residencial, mesmo com o crescimento recente, ainda é limitada e as tarifas cobradas ainda são muito altas.
Embora pouco já tenha sido efetivamente feito para resolver o problema, o tema ao menos já está em pauta com o ambicioso Plano Nacional de Banda Larga. Mais cedo ou mais tarde, a questão será equacionada e o comércio eletrônico poderá desfrutar dessa nova infraestrutura para sua expansão.

JULIO VASCONCELLOS, 30, economista, é fundador e presidente-executivo do site de compras coletivas Peixe Urbano. Escreve às quintas-feiras, a cada quatro semanas, nesta coluna.

julio.folha@yahoo.com

AMANHÃ EM MERCADO:
Rodolfo Landim


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