São Paulo, domingo, 26 de junho de 2011

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Microcrédito brasileiro atrai atenção do exterior

Microempreendedor com dificuldade de acessar sistema tradicional é alvo

Accion, dos EUA, uma das maiores do mundo, chega ao AM; Grameen Bank, de Bangladesh, desembarca em 2012

CAROLINA MATOS
DE SÃO PAULO

O aumento da renda dos empreendedores individuais do Brasil, muitas vezes informais e sem conta em banco, começa a chamar mais a atenção de instituições internacionais de microfinanças.
São grupos que oferecem empréstimo de pequenas quantias a microempreendedores com dificuldade para acessar o sistema financeiro tradicional, para que possam investir em seus negócios.
A Accion International, sediada nos EUA e uma das maiores do mundo no segmento, presente em 32 países de quatro continentes, com 62 instituições, acaba de se instalar em Manaus (AM).
A ideia inicial é servir o Norte e o Nordeste, que têm metade da população acima de 18 anos não bancarizada, segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Mas o plano da Accion Microfinanças, nome da representação brasileira, é crescer no país e se transformar em um banco de microfinanças em até cinco anos.
Hoje, o Banco do Nordeste tem a maior fatia do mercado doméstico de microfinanças (45%), seguido por Santander (14%) e Finsol (4%).
Mas essa indústria é muito pulverizada, com 361 instituições habilitadas no programa nacional do microcrédito produtivo orientado, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego. Muitas delas, de pequeno porte.
O saldo do microcrédito ao empreendedor no Brasil somava R$ 1,1 bilhão em abril passado, segundo o BC. A cifra ainda é muito pequena considerando os US$ 65 bilhões por ano do mercado global -sendo 11% na América Latina e no Caribe.
Estima-se que mais de 80% dos tomadores desse empréstimo no Brasil sejam empreendedores informais.
Muitas instituições de microfinanças, como a Accion, não exigem do cliente conta bancária. O dinheiro é liberado em cheque.

REGRAS
A média global de empréstimos da Accion fica em US$ 700 por pessoa (ou R$ 1.100). No Brasil, os valores vão de R$ 500 a R$ 7.000, e as taxas de juros cobradas variam de 3% a 3,6% ao mês.
Pelas regras do BC, o microcrédito produtivo pode ser de até R$ 15 mil por empreendedor, com juro máximo de 4% ao mês. As taxas elevadas estão entre as críticas feitas a esse tipo de crédito, que tem o papel de inclusão financeira.
"A maneira de conseguirmos juros mais baixos é construir uma indústria competitiva. Vimos isso acontecer na Bolívia e no Peru e precisamos fazer acontecer no Brasil", diz Michael Schlein, presidente-executivo da Accion International.
E há instituições questionadas quanto à qualidade e à transparência da gestão.
Em março deste ano, Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz de 2006, foi destituído do cargo de diretor-executivo do Grameen Bank, de Bangladesh, instituição de microfinanças que criou e pela qual ganhou o apelido de "banqueiro dos pobres".
Antes disso, o banco anunciou que pretende entrar no mercado brasileiro em 2012 e assinou um acordo de cooperação com o Santander (por meio da empresa Grameen Trust, que apoia instituições em 40 países).
Problemas de governança foram apontados como razões para o afastamento de Yunus, mas pressão política do governo após críticas feitas pelo ganhador do Prêmio Nobel também são consideradas causas da destituição.


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