São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 2011

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PERFIL

Sucessor tenta manter cultura da Apple

Discreto, Tim Cook é reverenciado pelo sistema de estoque, considerado fundamental para o sucesso da empresa

Engenheiro, 50, é fanático por ginástica; para revista Out', Cook é o principal executivo homossexual do mundo

Kimberly White - 16.jul.10/Reuters
Tim Cook (à esquerda), em entrevista em julho de 2010 sobre problemas com a antena do iPhone, ao lado de Steve Jobs, a quem substituirá na Apple

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

Tim Cook é constantemente descrito como um sujeito racional, detalhista e centrado, do tipo que fala baixo e mostra pouca emoção -características que ele atribui a sua formação como engenheiro. Essa aura impassível, porém, caiu por terra no dia em que conheceu Steve Jobs.
"Em menos de cinco minutos, na minha primeira entrevista de emprego com Steve, queria arremessar minha lógica e minha cautela pela janela", disse Cook, em maio do ano passado, aos formandos da Universidade Auburn (Alabama) -a mesma onde cursou engenharia.
"Minha intuição sabia que era uma chance única de trabalhar com um gênio criativo", continuou, para citar depois uma frase do ex-presidente Abraham Lincoln: "Vou me preparar, e um dia minha chance virá".
O discurso presciente -cujo vídeo está no site da universidade- revela traços essenciais para quem tenta entender o rumo que a Apple tomará após a substituição do emocional e carismático Jobs pelo racional Cook.
Aos 50 anos, solteiro e fanático por ginástica, Cook passou por Compaq e IBM até chegar à Apple, em 1998. Sua ascensão a braço direito de Jobs já levara a respeitada publicação gay "Out" a listá-lo como principal executivo homossexual do mundo.
É verdade que seu humor discreto e seu tom professoral cairiam melhor numa sala de aula do que diante dos espalhafatosos lançamentos de produto da Apple.
Mas, ainda que de forma mais contida, a paixão dele pela marca é evidente no discurso de 2010, e sua defesa da intuição sobre a lógica dá pistas de por que Jobs o elegeu seu sucessor.

NOS EIXOS
"Tim Cook é a pessoa para manter a empresa nos eixos -se alguém pode fazê-lo, é ele", afirmou à Folha Gene Munster, do banco Piper Jaffray, um dos mais respeitados analistas de tecnologia e especialista em Apple.
"Isso, claro, considerando que ninguém pode realmente substituir Steve Jobs."
A transição era esperada, o que acalma o mercado por ora. "Cook entende a cultura da Apple, o que deve garantir a primazia da empresa em inovação", diz Munster.
Em e-mail ontem a funcionários, o novo CEO reiterou seu amor pela empresa (com essas palavras), disse que Jobs é seu mentor e prometeu que nada na Apple mudará.
Cook é reverenciado no meio por ser o responsável pelo afiado sistema de estoque da Apple -crucial ao sucesso da marca, que orquestra a substituição de produtos de forma a evitar o encalhe da geração anterior.
É ele também que vem mantendo a concorrência à distância, fechando acordos com fabricantes de peças para que a Apple tenha primazia na definição dos preços.
Dúvidas, porém, aparecem no médio prazo. "É em cinco anos que o valor da companhia pode sofrer um impacto -pois o próximo sonho de Steve Jobs não vai mais se materializar", diz Munster.
Cook, para analistas, não tem o mesmo poder de atrair atenção para a marca que seu antecessor -cujo carisma emana, em muito, da condição de fundador-visionário.
Por isso, a empolgação em torno dos lançamentos deve diminuir com os anos.
Para o consultor de marcas Silvio Sato, porém, a Apple tem características sólidas -como o design e a forma como funcionam os pontos de venda- que podem mitigar o efeito da saída do fundador.

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