São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 2011

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ANÁLISE ENERGIA

Risco regulatório pode agravar investimentos em petróleo

ADRIANO PIRES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Com a iminente queda do regime de Gaddafi na Líbia, surgem questionamentos sobre a capacidade do país de se reerguer na era pós-Gaddafi e seus consequentes impactos sobre o mercado mundial de petróleo.
De acordo com a EIA (Agência Americana de Energia), a Líbia possui reservas equivalentes a 46,4 bilhões de barris, a maior da África, correspondentes a 3,4% das reservas provadas no mundo.
Em 2010, o país produziu aproximadamente 1,8 milhão de barris por dia (2% da produção mundial), que se reduziram para cerca de 100 mil barris em 2011, por conta do agravamento dos conflitos.
Obviamente, a Líbia vai aproveitar seu potencial na exploração de tais recursos naturais para recuperar o tempo perdido.
Antes da queda do antigo regime, o setor de petróleo líbio já vinha experimentando uma relativa abertura ao capital estrangeiro, com algumas gigantes já atuando na extração.
A principal delas é a italiana Eni, seguida pela americana Marathon Oil e pela russa Gazpron. O Brasil está representado pela Petrobras desde 2005.
Com a iminência da queda de Gaddafi, várias empresas já declaram a intenção de retomar a operação na região, assim que as condições de segurança permitirem.
A resolução do conflito certamente deixará a Líbia livre para atrair um maior volume de investimentos no setor petrolífero, contribuindo para o afastamento dos investimentos do Brasil.
Essa concorrência pelos investimentos das grandes empresas é agravada pelo elevado risco regulatório brasileiro. O governo vem criando regras, como o elevado requisito de conteúdo nacional, que, com a alta carga tributária, contribui para diminuir o retorno financeiro dos projetos.
A obrigação de priorizar o conteúdo local exige provisões de recursos para assumir multas, custos e atrasos, além do "custo Brasil": mão de obra especializada escassa e ineficiência logística.
O reconhecimento pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, de que a 11ª Rodada de Licitações de Blocos Exploratórios será adiada para 2012 é uma decepção adicional para as petroleiras e para a ANP.
Apesar do elevado volume de recursos envolvidos, a atual crise econômica internacional não pode ser apontada como culpada pelo adiamento, uma vez que a indústria do petróleo sempre trabalha com horizonte de longo prazo.
Além da Líbia, a atenção de grandes companhias internacionais de petróleo vai se voltar para a primeira venda de concessões de exploração de petróleo no golfo do México desde o desastre da Deepwater Horizon no ano passado, um movimento que surge quando a administração Obama tenta pressionar as empresas para desenvolverem seus campos mais rapidamente.
Logo, enquanto o Brasil continuará com as áreas com potencial inexplorado devido à ineficiência do governo em criar um ambiente favorável aos investimentos, outros países podem se aproveitar das condições favoráveis proporcionadas pela elevada liquidez mundial. Dinheiro não falta: basta criar as condições para atraí-lo.

ADRIANO PIRES é diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).


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