São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 2011

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ENTREVISTA JEFFREY LIKER

Empresas americanas se alarmam antes da hora

ESPECIALISTA EM CRISES, PROFESSOR DE MICHIGAN DIZ QUE MEDO DE PIORA NA ECONOMIA CAUSA REDUÇÃO DE CUSTOS DESPROPORCIONAL

FELIPE VANINI BRUNING
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Autor de dez best-sellers sobre gestão, sete deles sobre a Toyota, habituada a crises, Jeffrey Liker, professor de engenharia da Universidade de Michigan, afirma que as empresas americanas reagem desproporcionalmente à situação da economia.
Para Liker, que fará palestras no Brasil nos dias 13 e 14 de setembro, as empresas dos Estados Unidos poderiam aproveitar as lições da japonesa Toyota, maior fabricante mundial de carros.
A seguir, os principais trechos da entrevista.

 

Folha - Quais são os ensinamentos da recessão de 2008?
Jeffrey Liker -
A maior parte das empresas tende a focar suas estratégias no curto prazo. Por isso, quando estão com muito dinheiro, gastam como se a prosperidade fosse durar para sempre. Em momentos de recessão, cortam os custos antes da hora, por medo, como se a economia nunca fosse se recuperar, o que é uma estupidez.

As empresas estão mais preparadas para uma nova crise?
Primeiramente, os EUA não estão em crise. O que aconteceu foi que uma agência (Standard & Poor's) rebaixou a nota dos títulos americanos, mas outras duas (Moody's e Fitch) ainda mantêm a classificação AAA. Acredito que a Standard & Poor's fez isso porque não gostou do fato de que foi difícil para o Congresso chegar a uma conclusão, além de considerar que houve poucos esforços para cortar o deficit público. Assim, não acredito que estejamos vivendo uma segunda onda de recessão.

Como a experiência da Toyota pode servir para outras empresas?
A Toyota não é direcionada para resultados de curto prazo. Eles agem como se a economia estivesse sempre fraca. Em momentos de prosperidade, a Toyota é conservadora e não gasta excessivamente, além de poupar em um nível extraordinário.
Hoje, eles estão com os estoques de carros quase nos mesmos níveis de antes da recessão e ainda farão vários lançamentos. Só conseguiram isso porque mantiveram o nível de financiamento para projetos de pesquisa e desenvolvimento.

O que as empresas americanas estão fazendo para lidar com a crise?
As maiores empresas americanas que superaram a recessão cortaram todos os custos que podiam. Para isso, precisaram fazer demissões em massa, fechar fábricas e vários braços de negócios, além de cortar benefícios trabalhistas e até viagens.
No primeiro semestre, as vendas aumentaram e, com a economia retomando o crescimento, elas voltaram a ser lucrativas. Acho que estão até em boa forma.

Essas empresas mudaram suas estratégias?
Como elas não estavam seguras de que a recessão havia acabado, começaram a ampliar as horas extras e a contratar trabalhadores temporários.
Nesse sentido, estão numa posição melhor, pois montaram operações de baixo custo. Antes de tornar a investir, elas decidiram esperar para ver se a volta do crescimento era passageira.


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