São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2010

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RODOLFO LANDIM

Brasil ou exterior?


A busca de petróleo fora foi muito importante para a Petrobras, mas o Brasil seguiu como melhor destino

DESDE A SUA criação, a Petrobras focou suas atividades no Brasil, e não poderia ser diferente. Até 1997, a companhia foi a única operadora do monopólio estatal do petróleo e, estando localizada em um país com enormes necessidades de investimentos na área de atuação da companhia, nada seria mais natural.
Apesar de ter recursos investidos em exploração espalhados por várias bacias sedimentares brasileiras, até meados dos anos 1970 a Petrobras só possuía produção de petróleo significativa na bacia do Recôncavo, na Bahia, e na bacia Sergipe/Alagoas.
Mesmo assim, menos de 20% das necessidades de consumo de petróleo brasileiras eram produzidas internamente, o que nos tornava altamente dependentes do petróleo produzido no exterior.
Com o primeiro choque do petróleo e o aumento de custos para suprir o país com esse produto essencial, duas decisões importantes foram tomadas. A primeira foi a de avançar a exploração para o mar, já que os novos preços do produto justificavam maiores investimentos.
A segunda foi a criação de uma subsidiária internacional, a Braspetro, tendo como objetivo principal a busca, no exterior, do petróleo não encontrado internamente.
A Braspetro, criada em 1972, teve enorme importância na história da companhia. Ela obteve excelentes resultados operacionais, como a descoberta do campo gigante de Majnoon, no Iraque, em 1976 (sua relevância era tanta que as reservas de todos os campos da Petrobras somados naquela época eram de apenas 10% das de Majnoon).
Outro importante fator da internacionalização da companhia foi o de proporcionar um grande aprendizado e capacitação aos seus técnicos, expondo-os a um regime de competição com as demais empresas de petróleo no exterior.
Mas, a partir do sucesso obtido com a exploração marítima no Brasil, notadamente com as descobertas na bacia de Campos, os recursos da companhia passaram a ser cada vez mais intensamente direcionados para a plataforma continental brasileira. Assim, os orçamentos voltados ao exterior, mesmo continuando a existir, foram, por muitos anos seguidos, relativamente pequenos na companhia.
Com a quebra do monopólio em 1997, surgiu uma outra onda de internacionalização, desta vez não mais baseada na visão da necessidade de suprimento interno (exceção feita ao caso do gás natural proveniente da Bolívia), até porque o país já vislumbrava a chegada da autossuficiência. A lógica era outra e um pouco diferente.
O mercado estava aberto para que qualquer outra companhia pudesse competir com a Petrobras em iguais condições no mercado interno e as oportunidades futuras de investimentos por aqui poderiam acabar se tornando igualmente atraentes a outras no exterior.
A Petrobras então se reestruturou, absorveu sua subsidiária Braspetro, transformando-a numa nova diretoria e trazendo para dentro da empresa a discussão sobre os projetos internacionais. Os investimentos externos voltaram a crescer significativamente, não apenas em exploração e produção, mas em todas as áreas de atuação da companhia.
Mas o cenário que se desenhou não ocorreu. A história mostrou que o Brasil continuava sendo o melhor destino para os investimentos da Petrobras. Os motivos foram diversos e passaram pelo uso de sua posição como ator dominante no mercado brasileiro, pela sua fortíssima influência política e pelo seu conhecimento técnico diferenciado para enfrentar os desafios locais em relação às demais companhias.
Isso fez com que a grande maioria das empresas de petróleo acabasse naturalmente buscando a Petrobras para constituir parcerias em seu projetos no Brasil e a hegemonia da empresa foi mantida sem sequer sofrer arranhões.
Hoje, a Petrobras encontra-se em situação semelhante àquela que tinha nos anos 1980, quando excelentes oportunidades de investimento passaram a existir no Brasil, reduzindo a necessidade e a atratividade de sua atuação internacional. O pré-sal e o foco que ele requer mostram que, mais do que nunca, o Brasil deve ser a prioridade.


RODOLFO LANDIM, 53, engenheiro civil e de petróleo, é conselheiro da Wellstream. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve quinzenalmente, às sextas-feiras, nesta coluna.

AMANHÃ EM MERCADO:
Jean Pisani-Ferry


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