São Paulo, sábado, 28 de agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Compras para obra da usina de Angra 3 custarão R$ 3,1 bi

Licitações serão direcionadas apenas ao mercado interno, para aquisição de equipamentos e serviços

Para Greenpeace, falta transparência a projeto de privatizar nucleares; Casa Civil nega que haja estudo nesse sentido

LEILA COIMBRA
SOFIA FERNANDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo prepara um pacote de compras de R$ 3,1 bilhões em equipamentos e serviços para a construção da usina nuclear de Angra 3, localizada no Estado do Rio.
Não será uma licitação internacional, mas direcionada ao mercado interno, e terá até 50 editais de concorrência. A principal licitação, no valor de R$ 1,5 bilhão, é relativa à montagem eletromecânica da usina. O edital deverá sair até o fim de setembro.
Andrade Gutierrez, Odebrecht, Techint e Ultratec já demonstraram interesse na disputa. Empresas que atuam no segmento de petróleo e álcool (etanol) também têm condições de prestar serviços para a área nuclear e se interessaram. A Andrade Gutierrez já tem o contrato das obras civis da usina.
Até o fim do ano, serão lançadas outras dezenas de editais para a compra de válvulas, bombas, tubulações e conectores, além da escolha da empresa que irá inspecionar o processo de montagem. O valor global dos contratos é de R$ 1,6 bilhão.
Luiz Manuel Messias, superintendente de gerenciamento de empreendimentos da Eletronuclear, estatal responsável por Angra 3, disse que todos os contratos antigos de fornecimento da usina, feitos na década de 1980, foram renegociados.
Dentre eles, estão os firmados com as brasileiras Confab, Nuclebrás e a Empresa Brasileira de Solda Elétrica (EBSE), para a compra de maquinário feito no país.
O acordo com a francesa Areva -para equipamentos importados com tecnologia de que o Brasil não dispõe- também foi revisto.
Recentemente, o Ministério Público Federal recomendou a paralisação das obras. A Eletronuclear recorreu.
Angra 3 está orçada em R$ 9 bilhões e as suas obras tiveram início em abril. A previsão é que fique pronta em 2015 ou 2016.

PARTICIPAÇÃO PRIVADA
O governo planeja construir pelo menos outras quatro centrais nucleares até 2030 e, como a Folha informou ontem, estuda abrir a concessão dessas usinas à iniciativa privada, quebrando o monopólio estatal previsto na Constituição.
Em nota, a Casa Civil negou que o governo estude privatizar a construção e a operação de usinas nucleares. Segundo apuração da Folha, o assunto está em discussão, embora ainda não haja uma decisão.
O Ministério de Minas e Energia limitou-se a informar, por meio de nota, que está conduzindo, com a Eletronuclear e a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), estudos para identificação de locais para a instalação de novas usinas nucleares.
Para o coordenador da campanha de energia nuclear do Greenpeace, André Amaral, porém, faltam discussão pública e transparência no propósito do governo de privatizar e acelerar o desenvolvimento de centrais nucleares no país.
Essa energia, diz, não funciona como reserva. "Uma vez ligada, você não a desliga. Ela não se configura como energia de emergência."
Amaral diz que falta seriedade na fiscalização do setor, uma vez que a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) é ao mesmo tempo fiscalizadora e fomentadora.


Texto Anterior: Governo aumenta controle sobre portos estratégicos
Próximo Texto: Análise: Subsídio à energia nuclear revive um projeto do passado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.