São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2010

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ANÁLISE PECUÁRIA

Para o produtor, nem sempre a melhor genética bovina é a que vem do exterior


PREÇO É ATRATIVO INDISCUTÍVEL AOS IMPORTADORES. O DÓLAR FRACO É UM IMPORTANTE INGREDIENTE PARA A AQUISIÇÃO DE GENÉTICA BARATA NO EXTERIOR


PAULO DE CASTRO MARQUES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Também na pecuária de corte há o estigma de que o que vem de fora é, quase sempre, melhor do que o produzido aqui. Essa percepção incomoda, especialmente quando o tema é a comercialização de material genético.
Alguns pecuaristas, como os criadores de angus, insistem em buscar sêmen no exterior em detrimento da oferta interna, de reconhecida qualidade.
Nesse caso especial, o preço é um atrativo indiscutível aos importadores. O dólar fraco é um importante ingrediente para a aquisição de genética barata no exterior.
O problema é que nem sempre esse produto de fora contribui para elevar a produtividade da pecuária brasileira. Em alguns casos, pode até jogar contra a atividade.
Essa preocupante realidade salta aos olhos quando percebemos grande interesse de pecuaristas de fora do Brasil por nossa genética. Isso ficou claro no Congresso Mundial da Raça Brahman, realizado na semana passada em Uberaba (MG).
Para começar, o evento atraiu cerca de 550 criadores de duas dezenas de países, dos mais diferentes continentes, visitação até maior da que ocorre normalmente na Expozebu.
A Feicorte (Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne), em São Paulo, e a Expointer, em Esteio, no Rio Grande do Sul, também são pontos de encontro de produtores internacionais.
Esse público vem ao Brasil para conhecer de perto a pecuária que mais cresce no mundo e também para prospectar negócios. Muitas parcerias foram iniciadas -algumas de venda de genética nacional para projetos nas Américas do Sul e Central. Trata-se de uma notícia muito importante, que quebra o paradigma de importador do nosso país.
Se isso acontece na raça brahman, selecionada legalmente no Brasil há apenas 16 anos, por que não ocorre com outras opções genéticas presentes aqui há mais tempo?
Além da supervalorização da genética de fora no Brasil, outro componente impõe duras restrições à virada do jogo e a consequente transformação do nosso país em importante fornecedor de animais, de sêmen e de embriões para o exterior, notadamente para os países de língua espanhola: a legislação.
A falta de protocolos sanitários entre o nosso país e potenciais compradores da genética pecuária produzida aqui atrasa e, mais do que isso, desanima iniciativas nesse sentido. Isso ficou claro no Congresso Mundial do Brahman. Apesar de muitas negociações, os negócios efetivos esbarram na lei e podem definhar, abrindo espaço para concorrentes com menos qualidade.
A lição de casa é dupla. Os pecuaristas precisam olhar com atenção para o trabalho realizado no país e os nossos governantes precisam estar atentos à abertura comercial, condição básica para multiplicar a presença de nossa genética no exterior. Qualidade para isso nós temos.


PAULO DE CASTRO MARQUES, empresário e pecuarista, é proprietário da Casa Branca Agropastoril, especializada na criação de gado angus, brahman e simental sul-africano.


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