São Paulo, terça-feira, 29 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE CAFÉ

Quando é necessário regulamentar o mercado

SYLVIA SAES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Inspirados na crise econômica e na perspectiva de instabilidade de preços dos alimentos, movimentos a favor da regulamentação dos mercados agrícolas começam a tomar forma.
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, foi um dos primeiros a levantar a bandeira contra "a especu- lação e a volatilidade dos preços agrícolas", propondo a criação de um estoque mundial de alimentos.
Esse movimento é o que faltava para que agentes do café brasileiro saíssem a público para propor uma política de preços mínimos pa- ra o mercado.
Alguns representantes do setor defendem que a vo- latilidade de preços acen- tuada pelos movimentos dos mercados financeiros requer a regulamentação, em prol do produtor rural e da sua cadeia produtiva.
Sempre é bom ressaltar que o histórico de quase cem anos de regulamentação mostrou que a política de defesa da valorização de preços do café, apesar de ter engrossado as contas da balança comercial brasileira, não teve um final feliz para o setor: aumento da oferta e perda da participação do Brasil no mercado internacional.
As medidas que criam artificialmente soluções de curto prazo devem ter em conta os seus efeitos de longo prazo.
É uma tarefa quase impossível definir artificialmente o preço ideal, considerando que os custos de produção não são homogêneos entre os produtores.
O preço estabelecido deve produzir incentivos adequados aos produtores de modo a garantir o bom funcionamento do mercado.
Manter preço abaixo do de mercado cria uma expectativa negativa sobre os agentes, desestimula a produção e resulta em maior estreitamento da oferta no longo prazo.
Preços acima incentivam aumentos excessivos da produção, possibilitando a criação de mercado negro e necessidade de maior intervenção para coibir tais práticas.
Na atual conjuntura, de aumento dos preços e queda de estoque, qualquer medida visando conter os preços levaria à escassez do produto e ao desincentivo ao aumento e recuperação da oferta.
Nos casos de mercados reais, os determinantes de oferta e demanda são mais poderosos que medidas artificiais e explica por que estes funcionam melhor quando operam com o mínimo possível de intervenção.
Isso não significa deixar oferta e demanda como os únicos juízes em um mercado que age de forma defasada tendo em vista a especificidade da produção agrícola.
Se a lei da oferta e da demanda é mais forte, uma forma de lidar com as falhas desse mercado é a adoção de incentivos aos agentes econômicos, como financiamento, assistência técnica, ou seja, mecanismos que permitam prover aos produtores uma sinalização adequada.
Pode-se concluir que tudo indica que a demanda por regulamentação das commodities agrícolas surge de um mal-entendido da diferença fundamental entre os mercados reais e os financeiros.
Como se tem observado nos mercado futuros de café, a exagerada liquidez internacional e a forte presença de especuladores de derivativos têm contribuído para desestabilizar o mercado real.
Regular os mercados que espelham as reais condições da oferta e da demanda po- de levar a resultados inde- sejados no futuro. Entretanto, o que fazer com merca- dos que distorcem o lado re- al da economia?

SYLVIA SAES é professora do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).


Texto Anterior: Petrobras deve elevar teto do preço de petróleo
Próximo Texto: Vaivém - Mauro Zafalon: Safra europeia de grãos subirá 2,4% em 2011/2
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.