São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2010

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Pioneira comanda estaleiro da família

Gisela MacLaren é a única mulher no Brasil nesse posto; indústria naval começa a atrair mão de obra feminina

Empresária, que cuida da empresa criada em 1938 por seu avô, implantou curso para soldadoras em presídio

CIRILO JUNIOR
DO RIO

A empresária Gisela MacLaren é uma pioneira na indústria naval. Começou a trabalhar no estaleiro da família aos 15 anos, mas desde criança circulava pela área, acompanhando o pai.
Na época, mulheres só eram admitidas como telefonistas ou secretárias.
Hoje, aos 42 anos, é a única mulher a comandar um estaleiro no Brasil e presencia a chegada de cada vez mais mulheres na indústria naval, como soldadoras, pintoras, eletricistas e montadoras.
Mesmo sendo herdeira do MacLaren, situado em Niterói (RJ), Gisela sentiu, logo no início, as dificuldades de atuar num ambiente dominado por homens.
"Vivi uma certa rejeição por conta de ser filha do dono da empresa, e mais ainda por ser mulher. Passei um período bem desagradável, as pessoas sonegavam informações", afirma a executiva.
Gisela chama a atenção tanto pela beleza quanto pela firmeza com que comanda o estaleiro, que em momentos de pico de produção emprega até 3.000 pessoas.
Ela decidiu estudar nos Estados Unidos, onde se formou em economia. De volta, ajudou a tirar o estaleiro de uma concordata.
Uma tentativa de sequestro, no entanto, a levou de volta às terras americanas por mais um ano e meio. No retorno ao Brasil, passou a trabalhar na direção da empresa, até assumir, em 2000, a presidência do estaleiro.
Durona assumida, Gisela diz que administra o estaleiro com o mesmo zelo com que cuida dos dois filhos. Rejeita regularmente propostas para se desfazer do negócio, iniciado por seu avô em 1938.
"Com tanto amor que tenho pela atividade, não consigo vê-la como um negócio. Aquilo não é uma commodity, é uma indústria na qual temos conhecimento e experiência. Não tem preço."
Gisela se define como trabalhadora incansável, mas ressalta que procura se divertir na mesma intensidade. Nas horas de folga, descarrega a adrenalina de comandar um estaleiro pilotando avião ou cantando. Já chegou a competir em motocross.

MÃO MAIS FIRME
Ela defende com firmeza a maior presença de mulheres nos estaleiros. Incentiva, há quase dois anos, a admissão de presidiárias no MacLaren.
Para tanto, implantou no complexo penitenciário de Bangu um curso de formação de soldadoras. Garante que o aproveitamento das mulheres é superior ao dos homens.
"O homem ingere mais álcool. A soldadora tem mão mais firme. A solda exige uma precisão manual muito grande. Então, a qualidade da solda dela é melhor do que a do homem."
Levantamento do Sinaval -sindicato que reúne os estaleiros do país- mostra que 15% da força de trabalho no setor é feminina, a maior parte em cargos administrativos.
Estima-se que as que trabalham efetivamente na construção dos navios cheguem a 5% do total da mão de obra. Ao todo, os estaleiros nacionais empregam cerca de 45 mil pessoas.


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