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Pioneira comanda estaleiro da família
Gisela MacLaren é a única mulher no Brasil nesse posto; indústria naval começa a atrair mão de obra feminina
Empresária, que cuida da empresa criada em 1938 por seu avô, implantou curso para soldadoras em presídio
CIRILO JUNIOR
DO RIO
A empresária Gisela
MacLaren é uma pioneira na
indústria naval. Começou a
trabalhar no estaleiro da família aos 15 anos, mas desde
criança circulava pela área,
acompanhando o pai.
Na época, mulheres só
eram admitidas como telefonistas ou secretárias.
Hoje, aos 42 anos, é a única mulher a comandar um estaleiro no Brasil e presencia a
chegada de cada vez mais
mulheres na indústria naval,
como soldadoras, pintoras,
eletricistas e montadoras.
Mesmo sendo herdeira do
MacLaren, situado em Niterói (RJ), Gisela sentiu, logo no
início, as dificuldades de
atuar num ambiente dominado por homens.
"Vivi uma certa rejeição
por conta de ser filha do dono
da empresa, e mais ainda por
ser mulher. Passei um período bem desagradável, as pessoas sonegavam informações", afirma a executiva.
Gisela chama a atenção
tanto pela beleza quanto pela
firmeza com que comanda o
estaleiro, que em momentos
de pico de produção emprega até 3.000 pessoas.
Ela decidiu estudar nos Estados Unidos, onde se formou em economia. De volta,
ajudou a tirar o estaleiro de
uma concordata.
Uma tentativa de sequestro, no entanto, a levou de
volta às terras americanas
por mais um ano e meio. No
retorno ao Brasil, passou a
trabalhar na direção da empresa, até assumir, em 2000,
a presidência do estaleiro.
Durona assumida, Gisela
diz que administra o estaleiro
com o mesmo zelo com que
cuida dos dois filhos. Rejeita
regularmente propostas para
se desfazer do negócio, iniciado por seu avô em 1938.
"Com tanto amor que tenho pela atividade, não consigo vê-la como um negócio.
Aquilo não é uma commodity, é uma indústria na qual
temos conhecimento e experiência. Não tem preço."
Gisela se define como trabalhadora incansável, mas
ressalta que procura se divertir na mesma intensidade.
Nas horas de folga, descarrega a adrenalina de comandar
um estaleiro pilotando avião
ou cantando. Já chegou a
competir em motocross.
MÃO MAIS FIRME
Ela defende com firmeza a
maior presença de mulheres
nos estaleiros. Incentiva, há
quase dois anos, a admissão
de presidiárias no MacLaren.
Para tanto, implantou no
complexo penitenciário de
Bangu um curso de formação
de soldadoras. Garante que o
aproveitamento das mulheres é superior ao dos homens.
"O homem ingere mais álcool. A soldadora tem mão
mais firme. A solda exige
uma precisão manual muito
grande. Então, a qualidade
da solda dela é melhor do
que a do homem."
Levantamento do Sinaval
-sindicato que reúne os estaleiros do país- mostra que
15% da força de trabalho no
setor é feminina, a maior parte em cargos administrativos.
Estima-se que as que trabalham efetivamente na
construção dos navios cheguem a 5% do total da mão
de obra. Ao todo, os estaleiros nacionais empregam cerca de 45 mil pessoas.
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