São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 2011 |
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VINICIUS TORRES FREIRE Não era a inflação: é pior
OS JUROS ESTÃO mais altos, os prazos de financiamento diminuíram, as pessoas tomam mais empréstimos vampirescos (cartão de crédito e cheque especial), a inadimplência subiu, o valor total dos empréstimos novos para consumo está abaixo do registrado em novembro de 2010. Se anualizado, o ritmo de concessão de novos empréstimos fica em 12,9%. O Banco Central vinha dizendo que um ritmo compatível com o controle previsto da inflação neste ano ficaria entre 13% e 15%, Esse é um resumo sumaríssimo das estatísticas de crédito divulgadas ontem pelo BC. As medidas de contenção de crédito, "ortodoxas" ou "heterodoxas", não funcionaram? Alguém pode não gostar dos meios, mas o Banco Central e, afinal, o governo estão atingindo seus fins. As expectativas de inflação, medidas pela média de uma centena de opiniões de instituições financeiras e consultorias, estão caindo faz quatro semanas (a mediana do IPCA caiu de 6,37% para 6,23% nesse ínterim). A "expectativa de inflação" do BC para este ano é de 5,6%. A meta de inflação é 4,5%. Mas a projeção do BC começa a não parecer irrealista. Certo, é difícil dizer que as expectativas estão "ancoradas", mas deixaram de flutuar para a estratosfera. Por quê? A opinião média do "mercado", suas projeções de inflação, é muito influenciada pela inflação e pela taxa de juros (Selic) corrente. A inflação parou de explodir, até porque o preço de commodities deu uma acalmada; o "mercado" talvez tenha demorado para perceber que os juros estavam subindo, porque o BC preferiu mexer pouco na Selic e apertou o crédito por outros canais. Na média, o valor nominal dos salários no trimestre encerrado em abril ficou na mesma. O desemprego está baixo, mas murchou a espiral "preço/salários" (salários cada vez mais altos pressionando a inflação, o que incentiva pedidos cada vez maiores de reajustes salariais etc.). A produção industrial está mais ou menos estagnada -é o que deve dar no resultado da pesquisa do IBGE, de hoje. A situação geral da economia parece ainda muito apertada, de fato. Embora preços de commodities e recursos naturais (comida, combustível, metais etc.) tenham dado um choquezinho nos preços, o país parecia estar mesmo numa vulgar situação de excesso de demanda, para onde se quer que se olhasse. No entanto, a atividade econômica arrefeceu e vai esfriar mais, o que, em tese, deve ter efeito ainda maior nos preços (para baixo). Tudo bem? Uhm. O crescimento do PIB neste 2011 e em 2012 deve ficar em, no máximo, 4% (o governo chuta 4,5%). A inflação talvez vá para a meta em 2012, mas com as cravelhas da economia apertadas. Difícil imaginar que em 2011 não teremos problemas como mercado de trabalho ainda muito apertado e mão de obra mal qualificada, rescaldos da alta de preços deste ano e aumento de salário mínimo, infraestrutura ainda escassa, gastos maiores em investimento (esportivos, pré-sal) sem controle maior do consumo do governo, que deve aumentar de novo no ano que vem etc. Apesar da grande histeria do "descontrole da inflação", que foi até abril, o problema é, claro, outro: não está sendo tomada providência alguma para azeitar a economia, a produtividade. vinit@uol.com.br Texto Anterior: E eu com isso: Inovação reduz dependência externa Próximo Texto: Laboratórios cobram política de inovação Índice | Comunicar Erros |
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