São Paulo, quinta-feira, 25 de outubro de 2007

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verão 2008

As tendências dos desfiles de Paris, Milão e Nova York

A mulher-flor
Estampas com flores, vestidos com formas de pétalas, flores na decoração das roupas... Os desfiles da primavera-verão 2008 em Paris, Milão e Nova York _que a Folha acompanhou in loco_ foram sucessivas explosões de motivos florais, trazendo de volta à moda o gosto romântico, depois de ao menos duas temporadas em que as grifes tatearam pelo futurismo retrô e pelo hibridismo multicultural.

Com as flores, vieram as cores fortes, e a estação inteira, menos intelectual e mais sensual, se transformou numa festa divertida e exuberante, como a moda sabe fazer.

Uma festa muito atual, de pouca nostalgia, em que as referências antigas (Belle Époque, anos 20, 50 e 60, movimento hippie etc.) foram lidas com um prazer muito contemporâneo pela mistura cultural, pela sensualidade assumida, pelo deboche e a ironia, pela praticidade e o conforto, pelo gosto de individualizar o estilo.

Já na semana de moda em São Paulo, que antecede as do Hemisfério Norte, o estilista Alexandre Herchcovitch tinha explorado com vigor o tema floral, ao transformar o cravo da lapela do smoking em motivo hiperbólico da construção das roupas. Foi o aviso de que as mulheres estavam de novo dispostas a encarnar as flores, em todos os seus níveis.

Glória Coelho também fez um ótimo desfile em São Paulo, em junho, em que adiantou algumas das tendências importantes que as coleções internacionais mostrariam nos últimos meses de setembro e outubro, como as transparências arquitetônicas, as franjas fartas e carnavalescas, os volumes florais.

E as flores vieram. Na Prada, evocando o inconsciente feminino. Na D&G, conclamando ao estilo folk-hippie. Na Balenciaga, estampando vestidos de construção muito arquitetônica e que combinavam romantismo, futurismo e referências militares. Nas coleções de Marc Jacobs para a sua grife e para a Louis Vuitton, as flores fartas serviram para adocicar um pouco as provocações deste estilista, que explorou as margens da sensualidade feminina com o uso de transparências e underwears e foi o grande destaque da temporada, por sua ousadia e seu humor.

Cada vez mais controladas por grandes corporações financeiras, cada vez mais globalizadas, concorrendo ansiosas pelos novos mercados da China, da Rússia e da Índia, as grandes grifes não esconderam o seu desejo de vender, vender e vender. Bastante voltadas à performance comercial, elas porém não dispensaram o prazer de criar, mas para mulheres concretas, mais que para garotas idealizadas nos ateliês-laboratórios dos estilistas.

A temporada pode não ter revolucionado a moda, mas deixou uma prova muito concreta de realismo, frescor e alegria.

carnaval de estampas
Um verdadeiro carnaval de estampas explodiu nas passarelas, junto com as formas florais. Três tipos de ilustrações se impuseram: a "artsy", com referências à pintura abstrata, como na Dolce & Gabbana _ que convidou um grupo de artistas para criar as suas estampas _; a estampa gráfica, com referência à op-art, como na Prada e na Givenchy; e a étnica, retrabalhada pelos recursos digitais hoje disponíveis na indústria. Na coleção da Kenzo, todas as três vertentes se misturaram com muito charme para criar o visual do hibridismo hipermoderno.

pink power
O rosa e o laranja, com as suas variações, dominaram a temporada _e as combinações rosa-vermelho e rosa-preto pontuaram os desfiles. O rosa do verão 2008, porém, não é o mesmo das garotinhas. Os estilistas modernizaram o uso dessa cor e buscaram rejuvenescer as mulheres sem deixá-las com cara de ingênuas. O violeta, o roxo, o lilás também compareceram com força, bem como os prateados e dourados. E o azul Klein, da estação passada, ainda resiste nas passarelas.

o corpo transparente
As transparências foram item obrigatório das melhores coleções, e os estilistas as trabalharam de maneiras criativas, para evitar efeitos convencionais. A idéia foi acrescentar vaporosidade às formas e explorar a sensualidade, deixando o corpo se insinuar por debaixo de tules e musselines. Muito sexy e arrojado foi também o uso da lingerie, do pijama e do underwear.

garotas ao vento
Os vestidões voltaram com tudo, soltos e aéreos, para serem tocados pelo vento e moldados pelo movimento, transmitindo a sensação de liberdade e de domínio do espaço. Mas, nas melhores coleções, como a da Lanvin, eles não são apenas volumosos e vaporosos, mas construídos de maneira muito complexa, a fim de criar um acordo perfeito entre arquitetura e leveza, conforto e elegância.

liberdade para as pernas
O desejo de liberdade e conforto se expressou também na forma das calças, mais soltas e com bocas largas ou larguíssimas. Um tipo de calça-bermuda, na altura do joelho, surgiu várias vezes nos desfiles e foi a chave do estilo da glamourosa coleção da Giorgio Armani. Os shorts e bermudinhas, bem marcados na cintura, foram determinantes. E as saias e os vestidos supercurtos, como na instigante coleção de Martin Margiela, não desapareceram de todo. Ainda bem.

dândis charmosas
Muito mais que nas últimas estações, o flerte com o guarda-roupa masculino marcou esta temporada. Já na semana de moda de São Paulo, Alexandre Herchcovitch desconstruiu o smoking para as mulheres em uma coleção seminal _a mesma que mostrou em Nova York. A imagem do homem para as garotas surgiu com toques de dandismo, como no belo desfile comemorativo dos 40 anos da Ralph Lauren.

franjas frenéticas
Se depender dos estilistas, as mulheres vão estar cobertas de plumas e franjas na próxima estação. Elas apareceram nas principais coleções, acrescentando leveza e movimento frenético às peças. Algumas têm referências étnicas, como em Jean-Paul Gaultier e Emilio Pucci. Outras recorreram ao imaginário dos loucos anos 20.

o reino dos acessórios
As bolsas diminuíram de tamanho _até virarem microbolsas presas ao calcanhar, uma invenção da Chanel. Os calçados surgiram muito decorados e com complicações artísticas, como nos saltos surrealistas da Prada. E as sandálias tipo gladiador da Balenciaga arrebataram os fashionistas. Os acessórios, muito mais rentáveis para as grifes do que as roupas, aumentam a cada estação o seu poder nos desfiles.

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