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Militares ameaçam 'baderneiros' no Egito

Chefe da junta que governa o país diz que não serão tolerados distúrbios na eleição parlamentar que começa hoje

Segurança do pleito vai ser reforçada pelo Exército, o que aumenta temor de confrontos; abstenção pode ser alta

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO
Manu Brabo/Associated Press
Barricada de blocos de concreto no Cairo, com os dizeres "a liberdade virá para sempre"
Barricada de blocos de concreto no Cairo, com os dizeres "a liberdade virá para sempre"

Advertindo que o país está "numa encruzilhada", o chefe do conselho militar que governa o Egito, marechal Mohamed Tantawi, afirmou que o Exército não irá tolerar distúrbios durante as eleições parlamentares que começam a ser realizadas hoje.

Após uma semana de protestos no Cairo exigindo a saída imediata dos generais, a primeira eleição desde a queda do ditador Hosni Mubarak, em fevereiro, dá a largada sob a ameaça de boicote, fraudes e violência.

"Não permitiremos que baderneiros atrapalhem as eleições", disse Tantawi, 76.

"É uma encruzilhada. Só há dois caminhos: o sucesso das eleições, que leve o Egito à segurança, ou sérios obstáculos que as Forças Armadas, como parte do povo egípcio, não irão permitir."

A advertência elevou o temor de que as forças de segurança voltem a reprimir com violência os manifestantes que se opõem aos militares e prometeram boicotar as eleições. Na última semana, 41 pessoas foram mortas em protestos no centro do Cairo.

Ontem o Ministério do Interior, que controla a polícia, prometeu "postura imparcial" na vigilância do pleito.

Mas, com o enfraquecimento da polícia desde a revolta de janeiro, o que fez disparar os índices de criminalidade, a segurança será reforçada pelo Exército, o que eleva o risco de confrontos.

Enquanto fala grosso, o chefe da junta militar procura dar a aparência de composição política que acalme os ânimos e esvazie a praça Tahrir. Por ora, sem sucesso.

A nomeação de um ex-premiê de Mubarak, Kamal Ganzouri, 78, para chefiar o novo gabinete civil foi rejeitada pelos manifestantes.

No sábado, Tantawi reuniu-se com dois dos mais importantes candidatos à Presidência, Mohamed ElBaradei e Amr Moussa, para discutir uma saída para a crise.

ElBaradei, Nobel da Paz e ex-chefe da agência de energia atômica da ONU, disse estar disposto a chefiar um governo de união nacional até que o presidente seja eleito.

'CARTAS MARCADAS'

Enquanto isso, milhares de pessoas continuaram ocupando ontem a praça Tahrir, dispostas a manter o protesto até que os generais saiam.

A descrença nos militares levou muitos a defender o boicote às eleições parlamentares, cujo principal objetivo é formar uma comissão que redigirá nova Constituição.

"Nunca votei no tempo do Mubarak porque era um jogo de cartas marcadas", diz o agente de turismo Hany Mostafa, 34, empunhando uma bandeira do Egito na praça.

Ausente dos novos protestos, a Irmandade Muçulmana, mais organizada força política do país, manteve seu apoio à realização das eleições, confiante num bom desempenho nas urnas. Especula-se que o índice de abstenção será alto. Nas duas últimas eleições sob Mubarak, a votação foi de 25% e 35%.

Há duas semanas, a estimativa era de que o comparecimento pudesse chegar a 70%, diz Emad Gad, do Centro de Estudos Políticos Al-Ahram. "Depois dos protestos na Tahrir, é possível que não alcance 10%", arrisca.

Ontem, a Human Rights Watch apontou "repetidas violações" da liberdade de expressão e do direito de se reunir nas semanas que antecederam o pleito egípcio.

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