Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Análise

Reunião de Bruxelas vai se provar irrelevante contra crise

GIDEON RACHMAN
DO “FINANCIAL TIMES”

À primeira vista, o desfecho da conferência de cúpula que a União Europeia realizou na semana passada parece histórico.

Os países europeus fecharam um acordo quanto a um plano que parece representar um passo importante na direção da união fiscal e política. O Reino Unido se recusou a acompanhá-los, e parece isolado e talvez a caminho de abandonar o bloco.

Se tudo isso pudesse ser aceito pelo que aparenta, seria de fato algo de momento. Mas o resultado da conferência de Bruxelas provavelmente se tornará apenas uma nota de pé de página nos livros de história, e não o início de um novo capítulo.

A única relevância que o debate da semana passada teve para a crise financeira foi a esperança dos investidores de que o anúncio de um "pacto fiscal" -envolvendo fiscalização muito mais severa dos orçamentos nacionais, no futuro- oferecesse cobertura para que o BCE (Banco Central Europeu) comprasse títulos dos governos italiano e espanhol enquanto fosse preciso, ou ao menos até que maior número de investidores privados fosse persuadido a retornar ao mercado.

O resultado é incerto. Mario Draghi, presidente do BCE, descartou oficialmente uma vasta expansão do programa de compra de títulos nacionais pela instituições. Mas o BCE concordou em emprestar muito dinheiro aos bancos europeus sob condições facilitadas -e estes serão pressionados a adquirir mais títulos públicos. Sobrecarregar, no entanto, os abalados bancos europeus com títulos de dívida pública que de outro modo não encontrariam compradores não representa solução sustentável.

O pacto fiscal essencialmente força todos os países da UE a assumir o compromisso de adotar medidas duras de austeridade, mas sem criar um mecanismo permanente para transferir dinheiro das porções prósperas da Europa àquelas que estão atoladas em depressões parciais.

E os principais problemas de ratificação ocorrerão provavelmente em países cujas economias estão se saindo relativamente bem, e nos quais os eleitores temam se ver arrastados pelos problemas dos países devedores da Europa. À medida que crescem esses problemas de ratificação, diante de um cenário de estagnação econômica ou coisa ainda pior, a imagem clara de um Reino Unido isolado e de uma Europa avançando rumo à união se tornará muito menos nítida.

-

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.