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Clóvis Rossi

A Crimeia basta para Putin?

Se for racional, líder russo pesará custo econômico de um conflito, mas pode agir só ideologicamente

Com a experiência de quem viveu seus primeiros 22 anos na Crimeia, o jornalista ucraniano Andrey Janitskyi escreve para o "site" LB:

"Sem o suporte da população local, as operações militares russas na Crimeia seriam impossíveis, assim como teria sido impossível a revolta do Euromaidan [a praça da Independência] sem o apoio dos habitantes de Kiev."

Numa única frase, duas constatações: primeiro, é evidente que a anexação da Crimeia à Rússia será aprovada no plebiscito de hoje; segundo, é difícil para o Ocidente condenar o resultado.

Se houve uma revolta popular em Kiev que derrubou um governo legítimo, pró-Rússia, e o Ocidente a endossou plenamente, como rejeitar idêntica atitude de parte dos habitantes da Crimeia?

Tudo leva a crer, pois, que a Crimeia já é um pedaço perdido da Ucrânia. Se é assim, a questão seguinte é saber se o presidente russo Vladimir Putin se contentará com a península na qual já tem uma imponente base militar ou avançará sobre outras porções da Ucrânia.

As opiniões dos especialistas se dividem.

"Para Putin, a Crimeia é apenas o começo", escreve, para "Prospect", Ivan Krastev, presidente do Centro para Estratégias Liberais de Sofia (Bulgária).

Explica ele: "Putin tem se recusado a jogar pelas regras do Ocidente. Ele parece não temer o isolamento político; ele o convida. Ele parece não se preocupar com o fechamento das fronteiras; torce por ele. Sua política externa equivale a uma profunda rejeição dos modernos valores ocidentais e a uma tentativa de desenhar uma clara linha entre o mundo da Rússia e o da Europa".

Alexander J. Motyl, professsor da Ciência Política da Rutgers University, ousa dizer não só que Putin avançará sobre as regiões do Sudeste ucraniano (com forte presença de russos) como prever que a anexação dessas áreas e da Crimeia será benéfica para a Ucrânia: "A Ucrânia emergirá mais compacta, mais homogênea e mais unida em seus propósitos."

Há, no entanto, os que acreditam que Putin agirá racionalmente, sabendo que entrar em um conflito com o Ocidente --que não será armado, mas econômico-- terá um custo altíssimo para a Rússia.

Julian Hans, no Süddeutsche Zeitung, lembra que o comércio entre a Rússia e a União Europeia representa só 1% da economia europeia, mas pesa 15% no PIB russo. Conclusão de Hans: "Uma guerra comercial seria dolorosa para a economia alemã, mas letal para a russa."

Racionalmente Hans tem razão, mas é bom lembrar que a chanceler Angela Merkel, após conversar telefonicamente com o líder russo, disse que ele estava fora da realidade.

Se é assim, Putin pode levar às últimas consequências a teoria de seu ideólogo Vladislav Surkov, para quem um país só pode ser soberano se for independente economicamente, forte militarmente e em condições de impor sua própria cultura, requisitos que a Ucrânia não preenche, segundo Putin.

Logo, é forte a tentação de colocar a Ucrânia sob a proteção do desgastado império russo. Se é assim, a crise estaria só começando.


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