Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

ilustrada em cima da hora

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Símbolo do realismo mágico, García Márquez morre aos 87

Colombiano, que teria câncer reincidente, estava em sua casa, no México

Romance 'Cem Anos de Solidão' (1967) vendeu cerca de 30 milhões de exemplares no mundo e consagrou o escritor

DE SÃO PAULO

O escritor colombiano Gabriel García Márquez morreu ontem, aos 87 anos, em sua casa, no México. A causa da morte não foi divulgada. Jornais mexicanos e espanhóis informaram que o autor lutava contra a reincidência de um câncer que atingia pulmões, gânglios e fígado, mas a família não confirmou.

Segundo nota da família, o corpo do escritor será cremado. O velório acontece no México, mas o destino das cinzas não havia sido decidido ontem.

Vencedor do Nobel de Literatura em 1982, García Márquez foi um dos principais nomes da literatura latino-americana no século 20.

Publicou livros como "Cem Anos de Solidão" (1967), "Crônica de uma Morte Anunciada" (1981) e "O Amor nos Tempos do Cólera" (1985).

García Márquez fez parte, ao lado do peruano Mario Vargas Llosa, dos argentinos Julio Cortázar e Jorge Luis Borges e do cubano Alejo Carpentier, do movimento literário "boom latino-americano".

Os livros do grupo, que alcançaram vasta repercussão na Europa nos anos 1960 e 1970, tinham como marca a experimentação da linguagem, a reflexão sobre os rumos da América Latina e, na maioria dos casos, o diálogo com o gênero do realismo mágico.

O escritor colombiano, porém, por vezes questionou a classificação de "realismo mágico ou fantástico". "É só realismo. A realidade é que é mágica. Não invento nada. Não há uma linha nos meus livros que não seja realidade. Não tenho imaginação."

García Márquez nasceu em 6 de março de 1927 em Aracataca. A relação dos pais serviu de mote ao romance "O Amor nos Tempos do Cólera". Com dois anos o escritor foi morar com os avós maternos.

Em uma entrevista de 1996, García Márquez comentou o vínculo entre sua infância e seus livros. "Acho que não existe nem uma linha sequer de todos os livros que escrevi que não tenha relação com minha infância. A infância é a grande fonte de tudo o que escrevo, a nostalgia é a principal matéria-prima", declarou.

Em 1936, o garoto foi morar em Barranquilla. Na adolescência, travou contato com o professor de literatura Carlos Julia Calderón Hermida, que o incentivou a abraçar a carreira literária. O escritor dedicou a ele seu primeiro livro, "O Enterro do Diabo" (1955).

García Márquez iniciou o curso de direito em Bogotá no final dos anos 1940, mas nunca se graduou. Logo enveredou pelo jornalismo.

Em 1954, consagrou-se no jornalismo ao trabalhar como repórter e crítico de cinema de "El Espectador", passando a exercer influência na vida cultural do país. No final da década tornou-se correspondente na Europa e, depois, na Venezuela e nos Estados Unidos.

"Não teria escrito nenhum dos meus livros se não conhecesse as técnicas do jornalismo, tanto na forma de obter e de elaborar a informação como na forma de utilizá-la no relato", afirmou em 1991.

A carreira literária tomou impulso no começo dos anos 1960, com a publicação de "Ninguém Escreve ao Coronel" (1961) e "O Veneno da Madrugada" (1962).

OBRA-PRIMA

Ele morava na Cidade do México quando escreveu a obra-prima "Cem Anos de Solidão" (1967). A saga de sucessivas gerações da família Buendía na fictícia aldeia Macondo simbolizava a truculência e os impasses da América Latina. Vendeu até hoje cerca de 30 milhões de exemplares.

Com o sucesso, García Márquez mudou-se para Barcelona (Espanha), onde permaneceu até 1975. Até 1981, dividiu seu tempo entre a Bogotá e a Cidade do México.

Depois disso, pediu asilo na embaixada do México e fixou-se no país. Alegou que abandou a Colômbia por ver seu nome envolvido na investigação sobre grupo guerrilheiro.

Esquerdista engajado, meteu-se em brigas com críticos dos regimes comunistas, entre eles Mario Vargas Llosa, que chegou a chamá-lo de "cortesão de Fidel [Castro]".

Mas sua briga mais célebre com Vargas Llosa não parece ter tido motivação ideológica. Em 1976, num cinema da Cidade do México, Vargas Llosa aplicou um soco no até então amigo por considerar que "Gabo" havia se insinuado para sua mulher, Patricia. Nunca mais voltaram a se falar.

Ontem, Vargas Llosa declarou: "Morreu um grande escritor cujas obras deram grande difusão e prestígio à literatura de nossa língua. Seus livros o sobreviverão, seguirão ganhando leitores".

Em 1994, criou a Fundación Nuevo Periodismo, em Cartagena, em colaboração com colegas de outros países. A fundação realiza oficinas, promove publicações, distribui bolsas e prêmios a jornalistas em formação.

Diagnosticado com câncer linfático em 1999, passou por tratamento quimioterápico.

Publicou seu último romance, "Memória de Minhas Putas Tristes", em 2004.

Em 2012, o irmão Jaime García Márquez anunciou que ele sofria de demência senil, sem condição de escrever.

García Márquez deixa a mulher, Mercedes, com quem era casado desde 1958, e dois filhos, Gonzalo e o cineasta Rodrigo García.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página