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Macedônia investe em ligação com o império de Alexandre, o Grande

Governo da antiga república iugoslava constrói arco do triunfo e estátua de 22 m do conquistador

Habitantes da área não descendem, porém, dos macedônios antigos; críticos apontam cerco à liberdade da oposição

JERONIMO GIORGI
ANGELO ATTANASIO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA MACEDÔNIA

O governo nacionalista da antiga república iugoslava da Macedônia, país de cerca de 2 milhões de habitantes que é um dos mais pobres da Europa, investe pesadamente na identificação com a Macedônia da Antiguidade -a de Alexandre, o Grande.

Em setembro, para celebrar os 20 anos da sua independência, o país fez uma parada militar que passou sob um novo arco do triunfo e foi concluída com a inauguração de um monumento de 22 m celebrando o conquistador macedônio na praça principal de Skopje, a capital.

As obras são parte do projeto Skopje 2014, reforma urbana do centro da capital que está sendo executada pelo governo e que, segundo a oposição, custará € 500 milhões.

Essa cenografia é a face mais visível do processo que o governo de Nikola Gruevski vem conduzindo desde 2008.

Neste ano, ao contrário do que aconteceu com Croácia e Albânia, a Macedônia não recebeu convite para aderir à Otan (aliança militar ocidental) devido a disputas com a Grécia quanto ao nome do país, o que já lhe custara a admissão pela União Europeia.

O pequeno país ocupa uma parte da região geográfica mais ampla conhecida como Macedônia, que se estende ao norte da Grécia e ao oeste da Bulgária. Com a independência, o país adotou o nome de República da Macedônia, o que desagradou aos gregos, cuja província mais setentrional leva o mesmo nome.

A população da "antiga república iugoslava da Macedônia", o nome provisório adotado pela ONU, tem 65% de macedônios, de origem eslava, e 30% de albaneses.

Desde 2008, o governo tenta impor a teoria de que o povo descende de Alexandre e dos antigos macedônios, ainda que essa nação de conquistadores que expandiu a cultura helênica tenha habitado o território nove séculos antes da chegada dos eslavos.

"Nós somos descendentes de todos os povos que aqui viveram, e agora esse legado é nossa propriedade", alega Todor Cepreganov, diretor do Instituto Nacional de História macedônio.

Nos últimos meses, o governo fechou os principais meios de comunicação da oposição e aumentou a pressão sobre os críticos.

"Estão começando a silenciar as opiniões divergentes", diz Irena Stefoska, que leciona história na Universidade de Skopje. "Isso tudo é grotesco; está ficando parecido com a Sérvia do começo dos anos 90." "Depois de conseguir a reeleição, o governo deu uma guinada ainda maior para o nacionalismo", afirma Risto Karajkov, analista do Osservatorio Balcani.

'ESLAVOS NÃO EXISTEM'

O projeto Skopje 2014, nome dado pela oposição, é um conjunto de obras em estilo clássico que estão sendo construídas no centro da capital, de 600 mil habitantes.

"Skopje tem de se tornar uma verdadeira cidade europeia", disse o arquiteto Vangel Bozynovski, um dos representantes da nova ideologia ultranacionalista.

Para esse fim, um novo Palácio da Justiça, ministérios, pontes e dezenas de estátuas estão sendo construídos com o objetivo de transformar o centro. "Temos a obrigação de completar a história arquitetônica", acrescenta o arquiteto, que projetou o Memorial Madre Teresa, a primeira das obras a ser inaugurada.

Para Bozynovski, que preside a associação de arquitetos de Skopje -líder da reforma urbana, apesar de contar com apenas 100 dos 1.500 profissionais que trabalham na cidade- o país está "reconstruindo a verdadeira história; não se trata de cenografia em estilo Las Vegas".

Do "Guerreiro a Cavalo", o nome dado à escultura de Alexandre, pode-se divisar o enorme arco do triunfo a 100 metros de distância.

"Se um Estado existe há mais de 20 séculos, combateu em tantas guerras e terminou por vencê-las, um arco do triunfo é necessário", argumenta Bozynovski.

"Aqui era o centro da parte leste da Europa e daqui a civilização se expandiu a outras regiões. Os eslavos não existem, e boa parte da história europeia é falsa."

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