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Análise

Ideias repetidas por Rumsfeld como mantra voltam à tona

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Poucos personagens da história recente americana foram tão espezinhados quanto o ex-secretário de Defesa Donald Rumsfeld, visto entre os autointitulados "progressistas" do mundo como o rei dos falcões, o gênio do mal que criou o militarismo messiânico da era Bush.

Não é pequena a ironia de ver o coveiro retórico daquele belicismo, Barack Obama, anunciar uma nova doutrina militar que repete essencialmente os mantras repetidos há dez anos por Rumsfeld.

Está tudo lá: uso restrito de forças terrestres e intensivo de tecnologias como aviões-robôs, coerção de perigos modernos como o terrorismo.

Como a história mostrou, a doutrina Rumsfeld não sobreviveu às duas guerras em que os EUA se meteram na década passada. Para invadir um país e ficar, é preciso soldados -muitos deles, como a experiência no Iraque demonstrou.

O problema é que, mesmo para a única superpotência militar do mundo, foi demais. O custo ajudou a empurrar o país para a quebradeira, o que explica a utilidade do anúncio para a estratégia eleitoral de Obama.

Se por um lado a percepção que fica é a de uma potência admitindo seus limites, há nuances a considerar.

O Orçamento de defesa americano seguirá inigualável. Os 11 grupos de porta-aviões ficarão intactos. Eles são o principal vetor de projeção de força dos EUA mundo afora, considerando que os mísseis nucleares estão aí para não serem utilizados.

A doutrina militar prussiana do começo do século 20 dizia que a Alemanha teria de derrotar a França antes de fazer guerra com a Rússia, o que ajudou a montar o sistema de alianças que jogou o mundo no caos em 1914.

É cedo para saber, mas lícito especular qual o efeito da eleição da China como inimiga numa doutrina que admite ser impossível tocar duas guerras simultaneamente. Não é um convite a um novo balé de acordos militares, como já acontece entre Pequim e Islamabad?

Por fim, resta saber se o minimalismo teria espaço em um cenário de conflagração real. Como dizia o general Patton, "os americanos não toleram um perdedor".

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