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Ativistas atacam decisão de negar "ditadura" Pinochet

Governo do Chile determinou a substituição do termo "ditadura militar" por "regime" em livros didáticos

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

A decisão do governo chileno de trocar a palavra "ditadura" pela expressão "regime militar" nos livros escolares causou fortes reações no país.

"Trata-se de uma estupidez. Piñera e seu ministro de 'educação' acreditam que se pode tapar a história mudando as palavras", disse à Folha por e-mail o escritor e acadêmico Ariel Dorfman ("Para Ler o Pato Donald"). "Quando um povo sofreu uma ditadura, sabe bem que não se trata de um 'regime', como se estivéssemos de dieta", concluiu.

De acordo com a medida, os alunos do ciclo básico chileno aprenderão que a gestão do general Augusto Pinochet (1973-1990), na qual morreram mais de 3 mil pessoas, segundo estimativas de entidades de direitos humanos, foi um "regime militar".

O ministro da Educação, Harald Beyer, voltou a pronunciar-se ontem para defender a decisão. Disse que os professores poderão usar a palavra "ditadura" em sala de aula, se acharem apropriado, e que o objetivo era "apenas convidar para um debate".

Devido à repercussão negativa, ontem, o Conselho Nacional de Educação disse que analisaria a mudança do termo, mas que a decisão final estaria nas mãos do Ministério da Educação, responsável pela elaboração e distribuição dos livros.

"É nitidamente uma tentativa de apagar o passado, diminuir seus efeitos. Não há outra palavra para definir o que aconteceu no Chile naquela época que não seja 'ditadura'", disse a escritora Nona Fernández, autora do romance "Mapocho", sobre os anos 1970.

Houve protestos do Instituto Nacional de Direitos Humanos e por parte de políticos da oposição.

Para Fernández, há uma relação entre essa decisão e o modo como o governo reprimiu as manifestações por mudanças no sistema educacional, no ano passado.

O governo federal, do conservador Sebastián Piñera, atravessa uma crise de popularidade, abalada, entre outras coisas, pelos conflitos com os estudantes. Piñera chegou a usar um decreto da época de Pinochet que exigia aprovação prévia das manifestações pelo governo para reprimir os jovens.

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