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Análise

As opções de Bashar Assad são a fuga, a luta ou a negociação

OS CRÍTICOS DIZEM QUE O DITADOR PERDEU O CONTATO COM A REALIDADE; OUTROS O VEEM SOB CONTROLE DE PARENTES MAIS PODEROSOS

SIMON TISDALL
DO “GUARDIAN”

Bashar Assad adotou seu típico estilo passivo-agressivo em seu discurso, prometendo ao mesmo tempo esmagar os dissidentes e promover vagas reformas.

Desde o início do levante sírio, em março passado, Assad, que jamais desejou a Presidência do país e se provou espetacularmente mal preparado para ela, exibiu diversos defeitos de caráter.

Os críticos dizem que o ditador está isolado e perdeu o contato com a realidade; outros o veem como fachada, ou até refém, sob controle de parentes mais poderosos e líderes militares.

Qualquer que seja a verdade, a pressão sobre Assad parece insuportável. Quais são suas escolhas?

1) Fuga. Caso a situação pareça incontrolável demais, ele pode tentar fugir, como aconteceu com a primeira vítima da Primavera Árabe, o ex-ditador tunisiano Zine el Abidine Ben Ali.

Assad pode buscar refúgio no Irã, há muito aliado de seu país, ou na Rússia, que sempre protegeu seu regime contra censura internacional.

2) Lutar. A abordagem atual quanto à crise deriva diretamente das táticas de Hafez Assad, o pai do atual ditador, notório pela repressão feroz a um levante em Hama, em 1982. A diferença agora é que, ao menos até aqui, a repressão sangrenta não funcionou e a inquietação não se confina a uma cidade ou região.

Os oponentes do regime contam com cada vez mais apoio de desertores das Forças Armadas e vêm recorrendo à resistência armada com frequência cada vez maior.

O dilema de Assad é que, se a matança continuar nesse ritmo, a missão da Liga Árabe pode ser desacreditada e deixar o país, o que levaria à ação direta do Conselho de Segurança da ONU.

3) Negociar. Assad voltou a mencionar vagas promessas de reforma, entre as quais um referendo constitucional para instaurar um sistema pluripartidário, em março.

Mas ele perdeu a credibilidade junto a muitos dos, se não todos os sírios, depois de anos de promessas não cumpridas nesse sentido.

Se Assad promover mudanças genuínas, corre o risco de ser abandonado pelos aliados do regime, especialmente Maher, seu irmão linha-dura, visto como responsável por boa parte da matança recente.

EXEMPLO EGÍPCIO

O Egito pode servir como modelo para o que virá na Síria. Sob esse cenário, o cabeça do regime perde o poder e é colocado sob julgamento simbólico, mas o regime mesmo, representado pelas Forças Armadas e outras facções internas poderosas, se manterá em larga medida intacto.

A revolução parecerá ter conquistado o sucesso e haverá uma grande festa comemorativa. Mas, na manhã seguinte, o povo começará a perceber que pouca coisa realmente mudou.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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