Portugal decreta prisão preventiva de ex-premiê suspeito de corrupção
José Sócrates, chefe de governo de 2005 a 2011, já estava detido em Lisboa desde sexta passada
Multinacional da qual ele é conselheiro está em investigação da PF do Brasil que apura vendas para a Saúde
A Justiça portuguesa decretou na noite desta segunda-feira (24) a prisão preventiva do ex-premiê José Sócrates.
Detido desde sexta passada (21) por suspeitas de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude fiscal, ele foi ouvido novamente em interrogatório nesta segunda, em Lisboa.
Primeiro chefe de governo a ser preso no país, ele está no Comando Metropolitano da Polícia de Segurança Pública.
Além de Sócrates, estão detidos o seu amigo e empresário Carlos Santos Silva, o seu motorista particular, João Perna, e o advogado Gonçalo Trindade Ferreira.
A Justiça de Portugal optou pela punição mais pesada entre as possíveis. Não está claro por quanto tempo ele ficará preso.
'COMUNICAÇÃO BANCÁRIA'
As investigações sobre o ex-premiê começaram após o banco Caixa Geral de Depósitos fazer "comunicação bancária" à Justiça.
Numa complexa sucessão de movimentações bancárias, o dinheiro que Sócrates detinha, e que era transacionado por Santos Silva, passaria, por meio de empresas offshores, para a conta de um representante da farmacêutica suíça Octapharma.
Este o entregaria a Sócrates para pagar falsas faturas, inventadas apenas para lavar o dinheiro.
Sócrates, 57, foi primeiro-ministro de Portugal entre março de 2005 e junho de 2011. Após deixar o governo, mudou-se para Paris, afastando-se da vida política de seu país.
Em março de 2013, em uma entrevista à RTP, foi confrontado com as acusações de ter uma vida de luxo na capital francesa.
"Tenho uma só conta bancária há mais de 25 anos. Nunca tive ações, offshores. Nunca tive contas no estrangeiro. A primeira coisa que fiz quando saí do governo foi pedir um empréstimo ao meu banco", disse à emissora de rádio portuguesa.
Seu nome já tinha sido envolvido em alguns processos judiciais, como o licenciamento do um empreendimento imobiliário no estuário do rio Tejo, perto da capital portuguesa, Lisboa.
Segundo as atuais investigações, o motorista do ex-primeiro-ministro ia periodicamente de carro a Paris entregar-lhe dinheiro vivo, em quantias que atingiam as dezenas de milhares de euros.
BRASIL
Sócrates é presidente do conselho consultivo para a América Latina da Octapharma, como relatou "O Estado de S. Paulo" nesta segunda.
Ele foi indicado ao cargo por Joaquim Lalanda de Castro, representante da multinacional e citado na Operação Vampiro da Polícia Federal, que investiga, desde 2004, fraudes na compra de derivados de sangue pelo Ministério da Saúde.
Em fevereiro de 2013, Sócrates se reuniu em Brasília com o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Um dia antes da prisão de Sócrates, a sede da Octapharma em Lisboa foi alvo de uma operação policial de busca e apreensão.