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Capital da revolução

Em Homs, na Síria, é o governo de Assad que se queixa de ser alvo da violência de forças rebeldes

KAREN MARÓN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM HOMS (SÍRIA)

Uma rodovia de duas pistas ladeada por plantações de oliveiras, trigo e cevada é a primeira imagem da entrada de Homs, um dos centros da rebelião na Síria, prestes a completar um ano.

Mas a tranquilidade é apenas aparente. Precários postos de controle militar estão protegidos por pilhas de sacos de areia; outros são feitos com chapas de alumínio.

Em cada um há dois ou três soldados do governo e um civil armado, desempenhando funções de controle.

À esquerda o monte Líbano se eleva, a 20 km de distância, um dos corredores da entrada de armas para os rebeldes, muitas vindas de território libanês.

Em Homs, o regime do ditador Bashar Assad tem tido dificuldade em manter a situação sob controle, mesmo tendo enviado tanques.

Ativistas de oposição apontam a ocorrência de massacres cometidos pelo governo. A imprensa internacional tem acesso restrito à cidade.

LIXO NAS RUAS

As ruas conservam seu movimento, mas na Al Ghota -a avenida principal, onde está encravado um bairro misto de cristãos e muçulmanos- todos os estabelecimentos comerciais estão fechados.

Alguns proprietários que vivem do outro lado da cidade têm medo de deslocar-se, em razão dos ataques e dos sequestros.

Outros dizem que aderiram à greve geral na cidade, mas porque foram obrigados por grupos armados.

Em compensação, o mercado ("souk") da cidade vibra ao ritmo de seus comerciantes e dos compradores. Muitas mulheres vestem o "hijab", véu islâmico.

O cenário infunde certa aparência de normalidade à cidade, embora as ruas estejam cheias de sujeira porque os lixeiros têm medo de serem atacados enquanto fazem seu trabalho.

No Hospital Militar de Homs, forças de segurança do regime que dizem ter sido alvos de rebeldes mostram a situação tensa que vive o regime na cidade.

A Folha foi levada até lá pelo governo, interessado em mostrar vítimas entre suas tropas.

Mohammed Fuad, 22, está deitado num leito, com a cabeça ferida e queimaduras graves nas duas mãos.

Um grupo armado não identificado interceptou seu veículo e disparou abertamente, sem dar tempo aos soldados de se defenderem. Foi uma emboscada, segundo ele, na qual se usaram pistolas e explosivos.

Do outro lado do quarto, Mohammed Alush, 35, distribuidor de verduras, encontra-se em situação delicada.

Seu braço e suas pernas foram destroçados em um tiroteio. Ele foi levado ao hospital porque não há leitos disponíveis nos centros de saúde para civis.

Alush, que estava em sua camioneta entregando batatas, foi interceptado no bairro de Tal Alshar.

Três mascarados cruzaram com o veículo e dois começaram a disparar.

"Não entendemos o que está acontecendo aqui", disse à Folha em voz baixa. "Queremos que a paz e a segurança voltem."

Alush é casado, tem quatro filhos e é alauíta, ramo do islã seguido por Assad.

Quando se pergunta a Alush se o ataque tem algo a ver com sua religião, ele não sabe explicar.

FERIDOS

"Desde o início dos incidentes, recebemos entre 15 e 20 feridos diariamente, e 785 soldados já saíram mortos daqui", afirmou à Folha o general de brigada e médico Ali Mohammed Assi, diretor do Hospital Militar.

"Cerca de 85% dos pacientes são homens. Num primeiro momento recebíamos feridos a balas, mas nos últimos meses estamos recebendo pessoas com lesões provocadas por estilhaços de explosões de lança-granadas e outros artefatos", diz.

O próprio hospital exibe sinais de disparos em sua fachada.

"O que vem aumentando nos últimos tempos são os disparos na cabeça e na parte superior do corpo. É a especialidade dos franco-atiradores", comenta Assi.

Tradução de CLARA ALLAIN

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