Em encíclica, papa faz críticas a interesse externo na Amazônia
'Laudato Si´' chama a atenção para consumo excessivo e para projetos que podem afetar 'soberanias nacionais'
Texto aponta para a desigualdade entre ricos e pobres e ainda condena a 'salvação de bancos a todo custo'
Após ter seu rascunho vazado por um jornalista, a encíclica do papa Francisco foi publicada oficialmente nesta quinta (18) pelo Vaticano.
Batizada de "Laudato Si´" (Louvado Sejas, em italiano medieval) -- sobre o cuidado da casa comum", a carta é centrada em temas ambientais, mas cita também desafios econômicos e políticos.
Ao tratar da Amazônia e das florestas equatoriais da bacia do rio Congo, na África, tratadas como "pulmões do planeta, repletos de biodiversidade", o papa diz que "não é possível ignorar também os enormes interesses econômicos internacionais que, a pretexto de cuidar deles [esses dois ambientes], podem atentar contra as soberanias nacionais".
Reproduzindo trecho do "Documento de Aparecida", produzido nesta cidade paulista na 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, em 2007, Francisco diz que há "propostas de internacionalização da Amazônia que só servem aos interesses econômicos das corporações internacionais".
A carta afirma que as mudanças climáticas são "um dos principais desafios para a humanidade" e que elas são agravadas pelo "desflorestamento para finalidade agrícola" e "pelo modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis".
"Quando estas florestas são queimadas ou derrubadas para desenvolver cultivos, em poucos anos perdem-se inúmeras espécies, ou tais áreas transformam-se em áridos desertos", afirma.
'ESPÚRIOS INTERESSES'
Nesse mesmo capítulo, intitulado "Perda de Biodiversidade", o pontífice louva as ações da sociedade civil e de entidades internacionais que sensibilizam as populações e colaboram, "inclusive utilizando legítimos mecanismos de pressão", para que os países não se vendam "a espúrios interesses locais ou internacionais".
O documento afirma ser preciso buscar uma "nova definição de progresso", que não se baseie apenas no desenvolvimento tecnológico e econômico.
DESIGUALDADE
O papa aponta também para as desigualdades entre ricos e pobres, dizendo que, enquanto "alguns se arrastam numa miséria degradante", outros "deixam atrás de si um nível [impraticável] de desperdício, como se tivessem nascido com mais direitos".
Para combater esse problema e reduzir o impacto humano sobre o ambiente, o pontífice diz, em referência aos países ricos, que é hora de "aceitar um certo decréscimo do consumo em algumas partes do mundo".
Mas ele ressalta que isso não é um "regresso à Idade da Pedra".
O papa condena a salvação de bancos "a todo custo" e diz que a crise de 2007 era chance para reformar o sistema financeiro, mas que não houve mudança significativas.