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Território rebelde vira símbolo da resistência à repressão síria

A exemplo de Benghazi, na Líbia, Zabadani torna-se um baluarte da insurgência no país

Exército Livre da Síria espera criação de zona de exclusão aérea para haver operações mais efetivas na localidade

KAREN MARÓN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ZABADANI (SÍRIA)

"Se Deus quiser, vamos libertar mais território. Somos livres, somos Zabadani", diz à Folha um jovem de 22 anos que se define como "combatente pela liberdade", em um frio reduto montanhoso.

A conquista de Zabadani em janeiro pelo ELS (Exército Livre da Síria) e sua conversão em um ponto estratégico, depois de dias vertiginosos de confrontos nos subúrbios da capital, faz com que alguns comandantes rebeldes falem de libertação de território da mesma forma como fizeram os adversários do líbio Muammar Gaddafi.

A pequena cidade, no cimo de uma ladeira rochosa, tornou-se símbolo dos manifestantes opositores do regime do ditador Bashar Assad.

"Temos que criar uma Benghazi", afirma um antigo tenente-coronel do Exército, que desertou, em referência à capital rebelde da Líbia.

"É importante que exista uma zona de exclusão aérea e um território protegido que nos permita operar com maior efetividade", diz.

O Exército retirou seus tanques e blindados de Zabadani -localizada a 30 quilômetros de Damasco- após feroz resistência de soldados desertores, seguida de trégua.

Depois que o cerco foi relaxado, alimentos e provisões voltaram a chegar à cidade.

A presença do governo se limita a alguns postos de controle nos limites de Zabadani. Mas há sinais visíveis de ataques, como edifícios destroçados por disparos de artilharia, caixas de munição espalhadas pelas ruas e marcas das lagartas dos tanques.

Um porta-voz do alto comando do ELS, Ismail al Naima, está ansioso por controlar o entusiasmo quanto à libertação. Ele afirmou que o principal objetivo do ELS, cujo comando fica em território turco, é minorar a capacidade das forças do governo para atacar a população civil.

"Não temos o controle militar da área, mas fomos capazes de repelir as forças do regime", afirma. "Faltam-nos munições. Eles têm tanques, artilharia pesada e aviões."

A presença dos combatentes da resistência pode ser sinal da chegada de uma fase mais violenta no conflito.

Todos estão armados e preparados para a defesa e o ataque. Cada um dos combatentes porta um fuzil Kalashnikov. Eles adquiriram experiência na produção de bombas caseiras capazes, dizem, de destruir tanques e blindados.

"Cedo ou tarde, eles tentarão conquistar a cidade, e precisamos estar preparados", diz Nabil Kassab, 31, desertor das forças do governo.

A cidade mostra sinais de um esforço coordenado de defesa. As ruas estão bloqueadas por barricadas, e homens armados, equipados com rádios portáteis, formam uma milícia organizada.

Ainda que Zabadani não tenha valor tático para os rebeldes, o sucesso em defendê-la pode ter importância real. Se a cidade for mantida por mais tempo, Assad parecerá mais fraco, e a criação de um governo provisório da oposição será mais provável.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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